Os dados da PNAD Contínua divulgados para o trimestre encerrado em agosto de 2025 indicaram os primeiros sinais de moderação no mercado de trabalho, embora o nível de atividade siga elevado. A taxa de desemprego ficou em 5,6% da força de trabalho, em linha com as expectativas do mercado, mas ligeiramente acima da nossa projeção (5,5%). Mesmo com essa leve surpresa negativa, o indicador segue no menor patamar da série histórica e acumula queda de 1,0 ponto percentual em relação ao mesmo período do ano anterior.
Na série com ajuste sazonal, houve uma alta marginal de 5,67% para 5,73%, interrompendo quatro meses consecutivos de queda. Apesar do arrefecimento pontual, seguimos avaliando que os principais indicadores do mercado de trabalho continuarão resilientes, mesmo em um cenário de política monetária significativamente contracionista.
A moderação da atividade também aparece em outros indicadores da pesquisa. A taxa de ocupação recuou 0,1% na margem. Além disso, a população fora da força de trabalho aumentou pelo quarto trimestre consecutivo, indicando que parte da estabilidade da taxa de desemprego pode estar sendo explicada pela saída de trabalhadores do mercado. Ainda assim, com o desemprego abaixo do nível neutro e a renda real em expansão, o mercado de trabalho segue pressionando a inflação e deve continuar sendo um dos principais fatores de atenção para a política monetária. Nossos modelos sugerem que a taxa de desemprego deve recuar ligeiramente nos próximos meses, encerrando o ano em 5,4%.
Do lado do emprego formal, os dados do CAGED apontaram criação líquida de 147,4 mil vagas em agosto, resultado inferior ao consenso de mercado (182 mil), mas próximo da nossa estimativa (156,4 mil). Após ajuste sazonal, a criação foi de apenas 77,5 mil postos, abaixo dos 106,7 mil de julho, sinalizando continuidade do processo de desaceleração. Ainda assim, a média mensal de 2025 permanece em 127,6 mil, patamar semelhante ao observado em 2023, um ano marcado pela resiliência do mercado de trabalho. O acumulado no ano chega a 1,5 milhão de vagas, resultado inferior ao registrado no mesmo período de 2024, mas ainda superior ao de 2023.
Em síntese, os dados mais recentes do mercado de trabalho corroboram o cenário de desaceleração gradual da atividade econômica, com sinais mais claros de moderação tanto no emprego formal quanto nos indicadores da PNAD Contínua. No entanto, a resiliência do mercado — refletida na taxa de desemprego ainda historicamente baixa, no crescimento da massa de rendimentos e na elevação da razão entre salários de admissão e demissão — indica que a economia segue operando com restrições importantes do lado da oferta de trabalho. Nesse contexto, mantemos a avaliação de que a convergência da inflação à meta seguirá demandando uma política monetária contracionista por mais tempo. Assim, seguimos projetando o início do ciclo de cortes da Selic apenas no primeiro trimestre de 2026.