Economia

Publicado em 27 de Novembro às 18:31:44

De volta aos 300 pts?

O comportamento das expectativas para a inflação em 2024, 2025, 2026 e 2027 e as projeções para a inflação dos analistas do mercado financeiro mostram uma perda importante de credibilidade do Banco Central do Brasil desde o início deste ano.

Segundo a pesquisa Focus, as expectativas para a inflação em 2024 já ultrapassaram o teto do intervalo de metas (4,5%), tendo atingido 4,63% nesta semana, a de 2025 4,34%, a de 2026 atingiu 3,78% e a de 2027 chegou a 3,51%. Todas acima da meta de 3,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional e em aceleração.

Esta desancoragem das expectativas em relação à meta teve início com as declarações do Presidente da República ao longo de 2023 desqualificando o Presidente do Banco Central, e indicando que as metas são muito rígidas, exigindo um custo excessivamente elevado por parte da população para serem atingidas. Segundo ele, uma meta de 4,5% seria mais condizente com os fundamentos da economia brasileira.

O resultado da reunião do Copom de maio, na qual os membros do Comitê indicados pelo atual governo votaram em bloco por uma redução da SELIC em 0,5 pontos de porcentagem e os indicados pelo governo anterior por uma redução de 0,25 p.p., foi, para muitos investidores, um sinal de que a futura diretoria do Banco Central, que toma posse em janeiro, será mais leniente com a inflação que a atual diretoria.

A indefinição quanto ao teor do pacote de ajuste fiscal, os adiamentos, as idas e vindas, tem gerado forte pressão sobre a taxa de câmbio que ontem ultrapassou o nível de R$ 5,90 por US$ 1,00, contribui para a deterioração das expectativas, pressiona diretamente a taxa de inflação, gera incerteza quanto à reação do Banco Central e afeta negativamente a efetividade da política monetária.

Finalmente, a proximidade entre o futuro presidente do BC e “conselheiros informais” do Presidente da República, a participação em reuniões com estes “conselheiros” aparentemente para discutir decisões de política econômica, geram apreensão e perda de credibilidade entre os investidores.

Em suma, vale o velho ditado: credibilidade é difícil de conquistar, mas muito fácil de perder. Estancar esta perda de credibilidade é fundamental para evitar uma aceleração da taxa de inflação nos próximos anos. A reunião do Copom de dezembro, se utilizado de forma adequada para sinalizar que o Banco Central está consciente dos riscos da perda de credibilidade e fará todo o possível para evitar que ela se intensifique (quem sabe um choque de 300 pontos base nos juros), pode se tornar um ponto de inflexão deste processo.

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