Hoje teremos a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom), responsável pela definição do nível da taxa básica de juros (Selic) a vigorar na economia brasileira. Esperamos que o Copom mantenha a taxa Selic em 15,0% a.a., ficando em linha com o esperado pelo mercado e encerrará o ciclo de alta de juros iniciado em setembro do ano passado.
Apesar da dinâmica de curto prazo da inflação ter se mostrado mais benigna do que o previsto — com arrefecimento concentrado nos grupos de alimentos e bens industriais —, a desancoragem das expectativas de inflação para horizontes mais longos e a estabilização das métricas mais inerciais (como os núcleos e os serviços subjacentes) em patamar incompatível com o cumprimento da meta indicam que o Banco Central ainda enfrenta um desafio relevante pela frente.
De fato, avaliamos que o balanço de riscos para a inflação ainda se mostra desfavorável para a dinâmica inflacionária de médio prazo – especialmente pela antecipação da corrida eleitoral de 2026, que tem se traduzido em sucessivos anúncios de novas medidas de estímulo à demanda por parte do Executivo. Considerando que o cenário base do BC parece subestimar (ou não incluir) o impacto de diversas medidas fiscais já anunciadas pela frente (crédito consignado privado, isenção do IR, efeito do pagamento de precatórios, entre outros).
Contudo, dado o elevado grau de incerteza no cenário macroeconômico, principalmente após a escalada das tensões comerciais entre os EUA e o Brasil, e de sinais incipientes de moderação da atividade econômica nas leituras mais recentes de indicadores da economia, entendemos que o BC opte por adotar uma postura vigilante, a fim de observar os efeitos defasados da política monetária sobre a economia. Entretanto, avaliamos que a política monetária corre o risco de permanecer no atual patamar por um período mais prolongado do que o contemplado no cenário de referência do BC (jan/26), devido aos riscos que citamos anteriormente.
Nesse contexto, avaliamos que o comunicado pós-Copom deve manter o tom hawkish. Esperamos que o Comitê sinalize a manutenção de uma postura vigilante, na qual a política monetária permanecerá em patamar contracionista por um período bastante prolongado, não hesitando em retomar o ciclo de alta de juros caso a convergência da inflação à meta seja ameaçada, ficando muito próximo do comunicado da reunião anterior.
Apesar de esperarmos poucas mudanças em relação ao comunicado anterior, o grande destaque pode ficar por conta de uma possível menção do impacto da política tarifária dos EUA sobre a economia brasileira. Por um lado, pode ser baixista pelo redirecionamento para o mercado interno das exportações e por conta de uma perspectiva de desaceleração da economia. Por outro, altista por conta do aumento da percepção de risco e piora da balança comercial, gerando uma depreciação do câmbio.