A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) que reduziu a taxa SELIC em 0,5 pontos de porcentagem na reunião de quarta-feira, não foi a principal surpresa, mas sim o placar e a composição dos votos que aprovou a decisão. O placar marcou 5 votos a favor da queda de 0,5 p.p. e 4 votos a favor de uma queda menor, de 0,25 p.p.. E, ainda mais importante, o voto que desempatou a partida foi dado pelo Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (RCN). Porque RCN votou a favor da queda de 0,5 p.p. e quais as possíveis consequências para o futuro?
Do ponto de vista puramente técnico, iniciar o processo com -0,25 p.p., como estávamos esperando, nos parecia mais razoável, dado que as expectativas para a inflação estão acima da meta nos horizontes relevantes, as projeções da inflação estão em queda mas também acima das metas até 2025 e o risco de começar com 0,5 p.p. seria afetar negativamente as expectativas e dificultar a tarefa da política monetária. Porém, a desaceleração da taxa de inflação na ponta, na média móvel trimestral dessazonalizada e anualizada, do IPCA cheio, da média dos núcleos de inflação e da inflação dos serviços nos últimos três meses, elevou a taxa de juros reais para níveis bastante elevados, o que justificaria, tecnicamente, iniciar com 0,5 p.p.
Mas e o placar apertado e o voto de RCN? Uma possível razão para o voto de RCN é política. Após vários meses de acusações e declarações agressivas do Presidente da República contra o Presidente do Banco Central, ao votar por 0,5 p.p. RCN pode ter dado o primeiro passo no sentido de desarmar o Presidente Lula.
Por outro lado, dada a intensidade das pressões que vinham se avolumando tanto por parte do governo, quanto do Congresso, dos empresários e de outros setores importantes da sociedade, ao iniciar o processo de queda da SELIC com 0,5 p.p., a decisão de RCN pode ter sido importante no sentido de consolidar a autonomia do Banco Central.
E, o que esperar do futuro? Concretamente, o cenário sinaliza para uma política monetária menos contracionista no futuro próximo. Este cenário já conta com quatro membros efetivos do Comitê e os dois novos indicados pelo Presidente Lula no final do ano, substituirão membros mais duros que votaram pela queda de 0,25 p.p. Podemos ver decisões bem mais expansionistas mesmo durante a presidência de RCN.
Uma dúvida adicional, e mais preocupante, é se o Copom irá efetivamente buscar a meta de 3,0% e como será definido o novo regime de metas, com a substituição da meta ano calendário pela meta contínua, a partir de 2025. Este aumento da incerteza é o resultado mais negativo da decisão e do placar da reunião do Copom.