A questão fiscal começa a preocupar os analistas e já faz preço no mercado financeiro. Além das dúvidas quanto à capacidade do governo de atingir a meta de equilíbrio primário zero em 2024, os dados fiscais da economia brasileira em 2023 têm mostrado um desempenho pior do que o esperado pelo governo e pelos analistas.
Ontem foram divulgados os dados mostrando o desempenho fiscal do governo em 2023 até o momento. Segundo estes dados, o setor público consolidado apresentou um déficit primário de R$ 35,933 bilhões no mês de julho, acima das expectativas dos analistas que apontavam para um déficit primário de R$ 30,850 bilhões. Entre janeiro e julho de 2023 o déficit primário do setor público consolidado atingiu R$ 56,179 bilhões. No mesmo período de 2022, o resultado foi um superávit primário de R$ 150,335 bilhões. Em outras palavras, entre o primeiro trimestre de 2022 e o primeiro trimestre de 2023 houve uma deterioração do resultado primário da ordem de R$ 206,514 bilhões, mais de 2% do PIB.
Com este resultado, entre junho e julho de 2023 a Dívida Líquida do setor público passou de 59,1% para 59,6% do PIB, o maior nível desde janeiro de 2021, e a Dívida Bruta do Governo Geral passou de 73,6 para 74,1% do PIB, o maior número desde novembro de 2022.
Além dos dados piores do que o esperado, o dia foi caracterizado por eventos negativos para o equilíbrio fiscal, como a aprovação do projeto de lei que mantém a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores econômicos e reduz a contribuição das prefeituras para a previdência social, a declaração da Ministra do Planejamento de que serão necessários mais R$ 168 bilhões em 2024 para fechar a conta. Com estas preocupações em vista, os investidores reagiram negativamente, com queda dos preços das ações, forte desvalorização da taxa de câmbio e aumento das taxas de juros, principalmente dos títulos mais longos, descolando do comportamento dos mercados financeiros internacionais, que precificaram uma parada no aumento da taxa de juros nos Estados Unidos.