Apesar de estar apresentando tanto uma dinâmica como uma composição melhor do que a inflação norte-americana, o índice de preços ao consumidor (CPI) ainda apresenta um processo de desinflação com alguns sobressaltos na Europa, o que deveria reverberar sobre as decisões de corte de juros dos principais bancos centrais da região.
Em março, a inflação cheia da Zona do Euro veio de acordo com o esperado, avançando 0,8% m/m. O mesmo ocorreu com o núcleo de inflação, que exclui energia e alimentos, que avançou 1,1% m/m. Já na métrica em doze meses, tanto o CPI cheio como o núcleo também vieram ao encontro das estimativas (2,4% a/a e 2,9% a/a, respectivamente), com ambos desacelerando em relação à leitura de fevereiro.
Contudo, não é baixo o risco de o processo de desinflação do bloco ser interrompido nos próximos meses antes da inflação alcançar a meta de 2,0%. A contribuição da deflação dos preços de energia para o processo de desinflação está menor a cada mês que passa, podendo até apresentar reversão e passar a contribuir para a alta de inflação caso os atuais conflitos geopolíticos continuem a pesar sobre o preço do petróleo. Além disso, a inflação de serviços, um forte indicador de pressões de demanda, está com o seu processo de desinflação paralisado desde novembro, com a inflação em doze meses estagnada em 4,0% a/a desde então, o dobro da meta.
Esses são sinais de alerta para um afrouxamento precipitado da política monetária por parte do Banco Central Europeu (BCE). Recentemente, as autoridades divulgaram que não devem esperar as métricas de inflação atingirem a meta para só então darem início ao ciclo de corte de juros. O discurso de que até junho será acumulado um número bem maior de dados de inflação tem reforçado as apostas do mercado de que o primeiro corte de juros ocorrerá nesse mês.
Já no caso do Reino Unido, a inflação cheia surpreendeu para cima tanto na métrica mensal (0,6% m/m, ante 0,4% m/m) como anual (3,2% a/a, ante 3,1% a/a). O núcleo, por sua vez, registrou altas de 0,6% m/m e 4,2% a/a em março, ainda inconsistente com a meta de inflação de 2,0%.
Esses patamares de inflação mostram o risco que os bancos centrais do continente estão correndo caso optem por promover um corte de juros prematuro. Embora as preocupações com a atividade econômica mais fraca no Reino Unido e na Zona do Euro sejam legítimas, o principal foco das autarquias deve continuar sendo a inflação, sob pena de haver um repique de preços que torne o combate à inflação ainda mais custoso, forçando as autoridades a voltarem a subir as taxas de juros, com impactos ainda piores sobre a atividade.