O Banco Central divulgou ontem a Ata da reunião do Copom que reduziu a taxa SELIC em 0,25 pontos de porcentagem na semana passada. A decisão não foi unânime, com quatro votos a favor de uma redução de 0,5 p.p. e cinco por 0,25 p.p., sendo que todos os votos de 0,5 p.p. foram dados por membros indicados pelo atual governo e os votos por 0,25 p.p. por membros indicados por governos anteriores.
Diante desta divergência e da ausência de justificativa sobre as razões da divergência, a reação foi de aumento das expectativas para a inflação e desvalorização do Real frente ao Dólar.
Na Ata “o Comitê avalia que o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada”. Diante desta constatação, “conclui-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária mais desinflacionária”.
Em outras palavras, houve consenso de que os cenários interno e externo deterioraram, o que justificaria uma política monetária mais contracionista. Em especial, o Comitê se mostrou particularmente preocupado com a desancoragem das expectativas para a inflação no médio prazo.
Dado isto, por que a divergência? Segundo a Ata, os membros do Comitê que votaram por uma redução de 0,5 p.p. o fizeram para respeitar o forward guidance da reunião anterior do Copom e, com isto, preservar a credibilidade do instrumento. A nosso ver uma justificativa pouco convincente, diante do fato de que o próprio presidente do Banco Central já havia descartado o forward guidance publicamente. Um sinal de que devemos ter um banco central menos duro a partir de janeiro. Não é um bom presságio para a política monetária.
Diante deste cenário, nossa avaliação é que o Copom deverá manter a SELIC constante nas próximas reuniões de 2024, a menos que as expectativas para a inflação em prazos médios caminhem em direção à meta, o que é pouco provável neste momento. A ausência de forward guidance no comunicado e na Ata tende a apoiar esta avaliação.