Ontem, tivemos decisões de política monetária nos Estados Unidos e no Brasil. Apesar dos resultados em termos de juros terem vindo amplamente em linha com o esperado pelo mercado, alguns pontos merecem destaque, sobretudo no que diz respeito à possíveis sinais de passos futuros.
Primeiramente, o Fed, de maneira não unânime, optou por reduzir a sua taxa de juros em -0,25 p.p., para o intervalo entre 3,50%-3,75% ao ano, repetindo o resultado da reunião anterior em que houve dissidência tripla. Por um lado, o diretor Stephen Miran novamente optou por defender um corte mais significativo de -0,5 p.p., ao passo em que os diretores Austan Goolsbee e Jeffrey Schmid defenderam a manutenção da Fed Funds rate em 3,75%-4,00%.
Em relação ao comunicado, o destaque ficou por conta da sinalização do Fomc de que a mediana das projeções dos diretores aponta para mais um corte de juros no próximo ano (3,25%-3,50%), mesmo diante de revisões significativas no que diz respeito ao crescimento do período que saiu de 1,8% para 2,3%. Esse aumento na projeção do ritmo de expansão da economia americana veio acompanhada por uma redução da expectativa de inflação para o próximo ano, cujo núcleo saiu de 2,6% para 2,5%, sinalizando que os diretores veem um maior crescimento com uma inflação mais controlada.
Na coletiva de imprensa que sucedeu a decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou que o Fed se encontra em uma posição confortável para esperar por novos dados para assim definir qual será a sua decisão da reunião de janeiro. De acordo com o presidente, o Fed se encontra em uma posição em que não é possível não correr riscos dado que a inflação se encontra elevada e o mercado de trabalho com riscos que podem levar a um enfraquecimento adicional. Nesse contexto, a discussão no Fed se resume a manter a taxa no patamar atual ou seguir na trajetória de cortes, retirando o risco de cauda de subida de juros do radar. Por fim, sinalizou que o mercado de trabalho segue uma tendência gradual de arrefecimento, ainda que esse arrefecimento tenha se mostrado um pouco mais forte do que o antecipado.
Dessa forma, o Fed sinaliza por um lado que a barra para cortar juros parece estar se elevando dada a maior proximidade da taxa neutra. Porém, aponta também que há uma certa confiança de que a inflação deve convergir para a meta por conta da expectativa de que a inflação tarifária não seja persistente, de modo que, novas altas também se mostram improváveis.
O Banco Central do Brasil manteve a Selic em 15,0% a.a., decisão unânime e amplamente esperada pelo mercado. O comunicado reforçou que a taxa permanecerá nesse patamar por um período “bastante prolongado” para assegurar a convergência da inflação à meta, adotando um tom ligeiramente mais duro do que o antecipado. O Copom substituiu o termo “suficiente” por “adequada” ao descrever o nível atual de juros, sinalizando maior convicção de que a política monetária está calibrada corretamente e reduzindo a probabilidade de cortes antecipados. Além disso, a inclusão do termo “como usual” ao mencionar a possibilidade de retomada do ciclo de alta reforça que, diante de um ambiente de incerteza elevada, o Comitê não hesitará em subir juros novamente caso julgue necessário. A manutenção da projeção de preços livres para 2026 e para o horizonte relevante (2T27) também trouxe viés altista, sugerindo maior persistência inflacionária.
O BC avaliou que a atividade econômica segue moderando conforme o previsto e que o mercado de trabalho mostra sinais de estabilização, deixando de ser descrito como “dinâmico” e passando a “resiliente”. Ainda assim, a autoridade monetária enfatizou que a inflação cheia e as medidas subjacentes seguem acima da meta, afastando interpretações de que os cortes poderiam começar já em janeiro. Diante do quadro inflacionário ainda desfavorável, das expectativas desancoradas e da proximidade do ciclo eleitoral — que tende a elevar a volatilidade e ampliar riscos fiscais —, consideramos adequada a manutenção de um tom firme. A decisão está alinhada ao nosso cenário, que prevê início do ciclo de flexibilização apenas no 1T26, possivelmente na segunda reunião do ano. Entretanto, vemos risco de que o orçamento de cortes seja menor do que o projetado pelo Focus, e mantemos a projeção de Selic em 13,0% ao final de 2026.
