A divulgação do PCE (personal consumption expenditures) norte americano nessa sexta-feira (28/03) mostrou um quadro no qual o consumo continua a não acompanhar a expansão da renda pessoal, mas que ainda assim exibe uma inflação pressionada.
Em relação ao índice de preços de gastos com consumo (PCE price index), o índice cheio apresentou avanço de 0,33% m/m, ao passo que o acumulado em doze meses quase não registrou alteração na passagem de janeiro para fevereiro, saindo de 2,52% a/a para 2,54% a/a, ambas as métricas vindo em linha com o esperado pelo mercado. Já o núcleo, que desconsidera energia e alimentos, avançou 0,37% m/m, uma alta acima da prevista pelo mercado (0,3% m/m, Bloomberg). No acumulado em doze meses, a alta de 2,79% a/a também superou as projeções (2,7% a/a).
O fato de a renda (0,8% m/m) ter crescido a uma taxa bem maior do que os gastos (0,4% m/m) continuou a alimentar a alta na taxa de poupança das famílias em fevereiro. Esse movimento sugere que os indivíduos devem continuar hesitantes em transformar o aumento de renda em consumo, ao menos enquanto a incerteza econômica gerada pela política tarifária do governo Trump continuar elevada.
Com a terceira leitura (resultado final) do PIB do 4º trimestre do ano passado apontando para um crescimento econômico marginalmente maior (2,4% t/t vs. 2,3% t/t), a forte alta da renda pessoal, a surpresa altista da inflação corrente e a desancoragem adicional das expectativas, o banco central norte americano (Fed) fica impedido de retomar o ciclo de afrouxamento monetário no curto prazo.
Além disso, a formação recente de poupança precaucional por parte das famílias pode virar consumo futuro quando a incerteza acerca da política tarifária do novo governo se dissipar, o que pode se traduzir em um impulso de demanda adicional sobre a atividade econômica no futuro que venha a pressionar a inflação, reacendendo a necessidade de o Fed voltar a aumentar a taxa de juros mais à frente.