Ontem tivemos as decisões de taxa de juros nos EUA e no Brasil marcadas por uma divergência no ciclo de política monetária nos dois países. Por um lado, o Fed anunciou um corte de 0,5 p.p. na Fed Funds rate que surpreendeu o mercado, que tinha como expectativa para o início do ciclo de cortes um ajuste mais moderado (-0,25 p.p.). Por outro lado, o Copom optou por interromper a estabilidade da taxa de juro, que se encontrava em 10,50% ao ano, ao anunciar a retomada do ciclo de aperto monetário com uma alta de 0,25 p.p. que era amplamente antecipada pelo mercado.
De acordo com o Banco Central norte americano, dado o ganho de confiança adquirido nos últimos meses de que a inflação está convergindo para a meta de 2,0% e o seu julgamento de que os riscos em cumprir o duplo mandato – pleno emprego e estabilidade de preços – está mais bem equilibrado, o comitê decidiu por reduzir a taxa de juros norte americana em 0,5 p.p. Com esta decisão, a Fed Funds rate recuou do intervalo de 5,25%-5,50% ao ano para 4,75%-5,00% a.a.
Além da surpresa na magnitude do corte juros, a inclusão explícita pela primeira vez do mandato de pleno emprego no comunicado reforça a percepção de que a diretoria do Fed se mostra atualmente mais preocupada em evitar um esfriamento excessivo do mercado de trabalho vis-à-vis o combate mais intenso à inflação nos próximos meses.
Durante a coletiva de imprensa, quando questionado se acredita que os próximos meses podem ser marcados por uma desaceleração mais significativa da economia, o presidente Jerome Powell, argumentou que os indicadores econômicos hoje não sugerem uma alta probabilidade de que tal evento ocorra. Nesse sentido, reforçou que o Fed está buscando entregar um cenário de pouso suave (“soft-landing”) da economia americana, de modo que as futuras decisões serão tomadas reunião a reunião a depender da evolução dos indicadores econômicos, sobretudo dos indicadores do mercado de trabalho.
Dessa forma, entendemos que o ritmo anunciado de corte de 0,5 p.p. não pode ser interpretado como um ritmo a ser seguido nas próximas reuniões, mas sim como uma espécie de recompensa pelo Fed ter aguardado uma reunião a mais para iniciar o afrouxamento monetário. Este fato é reforçado pela tabela de projeções do Fed, na qual os diretores estimam mais dois cortes de 0,25 p.p. nas duas últimas reuniões de 2024 a preços de hoje.