As últimas semanas foram particularmente importantes na definição das políticas fiscal e monetária no Brasil. De um lado, a decisão do Copom de aumentar a SELIC em 0,25 pontos de porcentagem, o comunicado e a Ata da reunião e o Relatório Trimestral de Inflação deixaram clara a postura do Banco Central de buscar a meta para a inflação no horizonte relevante.
De outro lado, a decisão do governo de reduzir o esforço fiscal em R$ 1,7 bilhões anunciado no Relatório de Receitas e Despesas, apesar a expectativa de déficit primário de R$ 28,4 bilhões, – 0,25% do PIB, deixou claro que o governo não pretende cumprir a meta de déficit primário zero em 2024, mas, na melhor das hipóteses, o limite inferior do intervalo da meta.
Ao mesmo tempo, o governo tem aumentado o número e o volume de recursos destinados a financiar programas fora dos limites da meta e do crescimento dos gastos do governo, definidos pelo Arcabouço Fiscal, o que diminui a importância das metas.
Diante deste cenário, os investidores começam a se preocupar com a evolução do déficit nominal, que inclui os gastos com o pagamento dos juros da dívida e define a evolução da relação dívida/PIB do país. Segundo o Banco Central, nos três últimos meses, os gastos com juros atingiram mais de R$ 800 bilhões, em 12 meses, o nível mais elevado da série histórica, se corrigidos pela inflação, maiores inclusive que os gastos com juros no período pré-crise de 2015/2016. A reação dos investidores é aumentar a taxa de juros demandada para financiar a dívida, principalmente dos títulos longos, e reduzir o investimento em títulos do país, o que dificulta uma valorização cambial, apesar do elevado diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos.