O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou uma desaceleração entre os meses de dezembro e janeiro, passando de 0,56% para 0,42%, superando a projeção de mercado de 0,35% (Broadcast+). Ao iniciar o ano, a taxa acumulada em doze meses situa-se em 4,51%, em proximidade com o teto da meta de inflação estabelecida para o ano, de 4,5%, e registrando uma desaceleração em relação ao mês anterior (4,62% a/a).
Apesar da evidente moderação do índice e da proximidade do acumulado em doze meses com o intervalo da meta de inflação, a composição dos fatores não é favorável. Notavelmente, as passagens aéreas, um componente altamente volátil, contribuíram com uma redução de 15 pontos base na variação mensal, demonstrando, assim, que parte desse resultado é atribuível a elementos aquém à política monetária. Por outro lado, os alimentos aceleraram seu ritmo de aumento devido a condições climáticas desfavoráveis associadas ao fenômeno El Niño.
Quanto ao componente da demanda, que representa o principal foco de atuação da política monetária, os preços indicam uma resiliência contínua. A inflação dos serviços subjacentes, que exclui a volatilidade das passagens aéreas, mantém uma trajetória de aceleração pelo quarto mês consecutivo, atingindo a marca de 5,00% no acumulado em 12 meses. O resultado é reflexo de uma demanda ainda elevada, fruto de um mercado de trabalho aquecido, altas transferências sociais e, mais recentemente, aumento real do salário-mínimo. Além disso, a capacidade produtiva se deteriorou no ano passado através dos resultados negativos do investimento, sugerindo baixa capacidade produtiva para o futuro.
Esses indicadores reforçam nossa percepção do risco de uma retomada da inflação por meio do canal de consumo das famílias, que constitui o principal componente de crescimento em nosso cenário para o ano de 2024. Surge, portanto, a questão sobre até que ponto a política monetária manterá sua firmeza no processo de desinflação caso a continuidade desse cenário seja posta em dúvida novamente.
