O IPCA15 de novembro, índice antecedente do IPCA, registrou variação de 0,62% m/m, acima das expectativas de mercado (0,49% m/m) e acima da nossa projeção de 0,55% m/m. Em linhas gerais, a surpresa é quase inteiramente causada por passagens aéreas, que registraram variação de 22,43% enquanto esperávamos 7,00%. Essa surpresa contrata um IPCA de novembro elevado, uma vez que a variação em passagens aéreas repete seu valor no IPCA. Para a política monetária, pouco importa se a alta foi causada por um item ou outro, a surpresa altista segue sendo igualmente relevante e a função de reação do Banco Central sugere como resposta a alta de juros.
Mesmo desconsiderando passagens aéreas, o qualitativo dos demais componentes seguem sugerindo uma dinâmica inflacionária acentuada. Alimentação fora do domicílio, grupo sensível às condições de demanda, sustenta um ritmo de variação em torno de 7% na medida anualizada. Além disso, alimentação no domicílio segue sendo impulsionada por carnes, que devem subir acima de 20% no ano devido à piora nas condições de oferta (virada do ciclo do boi). A alta nas carnes também causa alta em demais proteínas, como frango e suínos, reflexo de um efeito substituição na cesta de consumo. O câmbio deteriorado segue dando impulsiono adicional aos alimentos e colocando pressão nos bens industriais.
Além dessas leituras desfavoráveis na ponta, as métricas de atividade seguem surpreendendo as projeções dos analistas e expectativas de inflação de médio prazo seguem aumentando. Nesta semana, a taxa de inflação esperada pelo Focus para 2025 subiu de 4,12% para 4,34%, uma alta expressiva em uma semana. Juntando esses fatores com as recentes leituras de IPCA desfavoráveis, é de esperar que a política monetária passe a aumentar velocidade da escalada de juros. Nesse contexto, aumentamos nossa expectativa de alta de 50bps para 75bps para a taxa Selic na próxima reunião do comitê de política monetária.
Em nossa avaliação, os principais drivers dessa desancoragem são a falta de credibilidade da política fiscal frente a dinâmica atual de dívida e o receio sobre a próxima presidência do Banco Central quanto a suficiência da trajetória futura de juros. Para que seja possível reverter esse cenário, a política fiscal deve reancorar as expectativas dos agentes por meio de mudanças estruturais na dinâmica das despesas primárias, desobstruindo o canal de atuação dos juros restritivos. Quanto a política monetária, ela deve seguir reforçando seu comprometimento com a meta de inflação e seguir cobrando da política fiscal a postura necessária, conforme últimos comunicados.