O IPCA-15 de abril, divulgado nesta terça-feira, registrou alta de 0,36% no mês, resultado abaixo tanto da mediana das projeções do mercado (0,44%) quanto da nossa estimativa (0,42%). Além da desaceleração mais intensa do índice geral, a composição do indicador também trouxe boas notícias.
A surpresa favorável pode ser atribuída, em grande parte, à reversão de altas em alguns bens industriais e no aluguel, indicando uma possível queda nos custos marginais à frente para as empresas. Adicionalmente, itens voláteis e tradicionalmente instáveis, como passagens aéreas e perfumes, também apresentaram comportamento benigno. Nesse contexto, avaliamos que a leitura qualitativa deste mês foi a melhor entre as últimas três divulgações, o que é corroborado pela surpresa expressiva na média dos núcleos.
Todos os principais grupos (alimentos, serviços e bens industriais) apresentaram variações inferiores às projetadas. No grupo de alimentos, os destaques de baixa vieram do ovo de galinha e dos itens in natura. Em contrapartida, a carne bovina voltou a acelerar, enquanto o café desacelerou, mas em ritmo mais modesto do que o observado recentemente.
No índice cheio, a maior surpresa em relação à nossa projeção veio do aluguel e do condomínio, que puxaram os serviços para baixo. Ainda assim, alimentação fora do domicílio e os serviços mais sensíveis à mão de obra continuam apontando para uma demanda aquecida e um mercado de trabalho resiliente. Caso a queda no aluguel se consolide, ela pode sinalizar uma tendência de recuo nos custos marginais das firmas, com possível repasse gradual aos preços, o que sustentaria uma trajetória de desinflação ao longo dos próximos meses.
Por fim, cabe destacar que o nível atual das medidas subjacentes de cada grupo ainda se encontra em patamar elevado e inconsistente com o cumprimento sequer do teto da meta de inflação. O direcional é positivo, mas o questionamento que se instaura é se a leitura é uma tendência ou somente mais um ruído.