Ontem foi divulgado o IPCA-15 de julho, que mede a variação de preços entre o dia 15 de junho até o dia 15 de julho, antecedendo o IPCA oficial do mês. O índice registrou variação de 0,30% m/m, bem superior das expectativas de mercado (0,23% m/m) e da nossa projeção (0,24% m/m). Serviços registraram intensa variação de 0,70% m/m, enquanto esperávamos 0,37% m/m e o mercado 0,42% m/m. O índice traz más notícias para o IPCA de 2024.
O número sinaliza que o nível de inflação está em um patamar elevado, mas quando olhamos a composição vemos que não é tão ruim assim. A surpresa altista se concentrou essencialmente em três itens: passagens aéreas, condomínio e seguro de veículos. Os demais apresentaram surpresas baixistas e comportamento benigno.
Passagens aéreas influenciam podem influenciar bastante o número agregado devido a elevada volatilidade, o que também torna bem desafiador de ser projetada. Condomínio também pode influenciar bastante por ter um peso elevado, também sendo difícil de projetar e coletar. Esses dois itens trazem pouca informação quanto ao estado atual da economia e a dinâmica inflacionária. Quanto a seguros de veículos, pode-se atribuir a alta como um reajuste das seguradoras devido as enchentes no Rio Grande do Sul. Se a seguradora vê que pode ter subestimado a probabilidade de sinistro, ela aumenta o preço da apólice, e a tragédia no Sul pode ter causado essa impressão.
Já os itens mais sensíveis às condições de demanda, o comportamento foi benigno. Alimentação fora do domicílio e serviços intensivos em trabalho vieram abaixo da nossa projeção. São itens que são rapidamente substituídos na cesta de consumo das famílias quando a demanda é contraída, como refeição em restaurantes e serviços de estética. Além disso, houve surpresa baixista em alimentos, devolvendo parte da alta do começo do ano e com efeito intensificado devido a normalização dos canais produtivos no Sul. Bens industriais também surpreenderam para baixo, impulsionados por queda em automóveis e peças de veículos. Essa queda é reflexo dos leilões feitos em junho de automóveis atingidos pelas enchentes no Sul, a preços bem descontados. Nota-se que, com exceção dos três descritos acima, tudo favorecia um cenário de inflação mais baixa.
O IPCA de julho será elevado, uma vez que passagem aérea e condomínio repetem a variação do IPCA-15. Independentemente dessa alta ser causada por determinados itens específicos, o IPCA é a medida oficial de inflação monitorada pela política monetária, e esse IPCA-15 acaba de aumentar a projeção do índice oficial para o ano. Mais uma má notícia para a política monetária.
