Ontem o IPCA registrou variação de -0,02% m/m, abaixo da nossa projeção (0,01% m/m) e abaixo da expectativa de mercado (0,02% m/m). No acumulado em 12 meses, o índice de preços acumula variação de 4,24%. O qualitativo do número veio melhor que o esperado, e nossa projeção já era de uma composição bem favorável. Apesar da boa notícia, uma inflação de setembro elevada já está contratada, devido ao acionamento da bandeira vermelha 1. Apesar da deflação de agosto, o cenário estrutural segue de inflação elevada, demanda aquecida e expectativa de alta de juros nos próximos meses.
Era esperado que o número de agosto viesse próximo a zero, pois coletas de preços de alimentos seguiam em queda significativa, puxado por itens in-natura como frutas, batata-inglesa e tomate. Ao mesmo tempo, a bandeira verde de agosto barateou energia elétrica no mês, ao mesmo tempo em que se esperava alta da gasolina, dando efeito líquido zero nos preços administrados. Dessa forma, com alimentos em torno de -0,70%, administrados em torno de zero e as categorias de serviços e industriais variando entre 0,20% e 0,30%, estava precificado pelo mercado um IPCA em torno da neutralidade.
Por construção, o headline de agosto seria favorável. Restava-se analisar a composição do número. Caso serviços seguissem acelerando de forma significativa, o número de agosto traria preocupações para o futuro, pois alimentos devem parar de cair e administrados voltar a registrar variação positiva. Felizmente, o contrário ocorreu. Todos os núcleos de serviços surpreenderam para baixo nossas projeções. Serviços sensíveis a demanda, como estética e refeição fora do domicílio, vieram abaixo de nossas projeções. A perspectiva da composição da inflação de agosto já era bem positiva em nossas projeções, e o dado realizado se mostrou ainda mais.
Bens industriais também registraram variação (0,17% m/m) abaixo da expectativa de mercado (0,23% m/m), e levemente acima de nossa projeção (0,15% m/m). Diferentemente dos serviços, industriais registraram surpresa altista em itens duráveis sensíveis a demanda e condições de crédito, como eletrodomésticos e bijuterias. Em nossa visão, apesar do arrefecimento dos serviços, industriais seguem sinalizando uma demanda aquecida. Talvez o arrefecimento dos serviços reflita uma troca dentro da cesta dos consumidores, que passam a redirecionar seus gastos para industriais. Soma-se a isso um câmbio depreciado e preços ao produtor industrial voltando a subir. Apesar disso, a categoria de itens industriais não registrou variação elevada devido a queda no etanol, item complementar a gasolina na bomba de combustível. Mas reforça nosso alerta com relação a esses itens, pois podem seguir acelerando daqui para frente.
Apesar da notícia positiva, nossa projeção preliminar para o IPCA de setembro é de 0,58% m/m, variação elevada devido ao acionamento da bandeira vermelha 1 para o mês. Ao mesmo tempo, o IPCA de julho realizado foi de 0,38% m/m, significando que a inflação acumulada no terceiro trimestre de 2024 segue em patamar elevado e acima da meta de inflação. O número do mês é bom, mas não altera o cenário estrutural de uma demanda pressionada, inflação no teto da meta para 2024 e expectativa de alta de juros nas próximas reuniões do Copom. O Banco Central deve seguir vigilante.