Economia

Publicado em 10 de Setembro às 19:20:08

Leitura do IPCA benigna, mas com nuances

O IBGE divulgou nesta quarta-feira (10/09) o IPCA de agosto, que registrou -0,11% m/m, número ligeiramente acima da nossa projeção (-0,13%) e consideravelmente acima da mediana do mercado (-0,16%, Broadcast+). A leitura, no geral, pode ser classificada como benigna, já que as surpresas ficaram restritas a itens mais voláteis, como higiene pessoal e vestuário. Paralelamente, os serviços mais sensíveis à demanda, como alimentação fora do domicílio e intensivos em trabalho, em conjunto com os núcleos acompanhados pelo BC, que haviam soado alerta no IPCA-15, mostraram comportamento mais moderado nesta leitura.

A deflação do índice cheio foi explicada, em grande parte, pela queda de 4,2% na energia elétrica residencial, que sozinha retirou 16,6 bps do IPCA do mês. Sem esse efeito, o índice teria registrado +0,06% m/m, mostrando que a queda do índice geral não significa, de fato, preços mais baratos em média.

Nos alimentos, seguimos observando queda em linha com a sazonalidade, mas projetamos reversão a partir de outubro. Aqui, chama atenção o café, item relevante da cesta básica: nossas projeções quantitativas seguem apontando deflação nos próximos meses, mas o preço no atacado voltou a subir desde meados de agosto. Caso o consumidor acompanhe esse movimento, enxergamos risco altista de aproximadamente +0,15 p.p. para o IPCA acumulado em 12 meses no fim de 2025 (4,8%).

Nos serviços, mesmo que os núcleos tenham vindo em linha, houve contribuição baixista da Semana do Cinema (28/08 a 03/09), que deve aparecer com mais força na próxima leitura do IPCA-15. Já os bens industriais chamaram atenção: este grupo vinha sendo, junto com alimentos, um dos vetores de revisão baixista recorrente, mas desta vez concentrou a surpresa do mês. Dentro dele, duráveis (1/3 do grupo) ficaram em linha e, dado o câmbio apreciado, devem seguir lateralizados; a surpresa veio de higiene pessoal e vestuário, devolvendo a queda abrupta de julho.

No fim, mesmo com um “net” positivo para a leitura de agosto, a média dos núcleos observada pelo BC, que sintetiza quatro medidas de inflação subjacente e funciona como régua da tendência de preços, veio ligeiramente pior que o esperado. Fica a dúvida: trata-se de algo pontual ou um sinal de mudança de tendência por parte dos bens industriais? E o câmbio, que segue apreciado, continuará assim, mantendo-se como aliado da política monetária contracionista para o cumprimento da meta de inflação no horizonte relevante?

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