Ontem tivemos a divulgação dos índices de preço ao consumidor tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos referentes ao mês de julho. Ambas as leituras surpreenderam positivamente o mercado, apontando para dinâmicas inflacionárias mais bem comportadas, mesmo diante de um contexto marcado por aumento de tensões comerciais, reforçando as apostas de cortes de juros tanto aqui quanto nos EUA.
No Brasil, o IPCA registrou expansão de 0,26% m/m, vindo substancialmente abaixo do consenso de mercado (0,35% m/m, Broadcast+) e do que o piso das estimativas para o mês (0,28% m/m, Broadcast+). De modo geral, o IPCA registrou um desempenho qualitativo melhor do que o esperado, com a surpresa diluída entre o comportamento da inflação de alimentos, bens industriais e preços administrados, sugerindo o repasse da apreciação cambial observada desde o início do ano para os preços praticados ao consumidor.
Em contrapartida, os serviços, segmento mais inercial e mais ligado ao ciclo de atividade econômica doméstica, apresentou um qualitativo pior do que o esperado, refletido nas fortes altas dos segmentos de alimentação fora do domicílio e alguns itens de recreação, que corroboram um cenário de demanda aquecida sustentada por um mercado de trabalho resiliente.
Nos EUA, apesar da variação mensal do índice cheio ter vindo em linha com a expectativa de mercado (0,2% m/m, Bloomberg), a sua variação em 12 meses surpreendeu positivamente o mercado ao registrar expansão de 2,7% a/a, ficando abaixo do consenso de mercado (2,8% a/a, Bloomberg). O principal destaque baixista ficou por conta do grupo de energia, que voltou a registrar deflação (-1,1% m/m) em junho após uma alta de 0,9% m/m em junho. Essa inflexão reflete o comportamento dos preços das commodities energéticas, que recuaram ao longo do mês, diante da perspectiva de desaceleração das principais economias globais.
Diante dos comportamentos mais benignos das inflações no Brasil e nos EUA, os ativos de risco performaram positivamente ao longo do dia de ontem, refletindo as leituras que corroboram o cenário de cortes de juros nos EUA a partir da reunião do Fed em setembro. A confirmação desse corte alimenta também as expectativas de antecipação do ciclo de afrouxamento no Brasil, através do aumento do carry-over entre o Brasil e os EUA, contribuindo para manter a taxa de câmbio em patamar apreciado. Esse fato deve contribuir para uma dinâmica inflacionária de curto prazo mais bem-comportada, permitindo que o BC possa afrouxar a taxa Selic ao longo dos próximos trimestres.