Os dados mais recentes do mercado de trabalho contrariam a avaliação do Banco Central de que a economia brasileira está apresentando sinais, ainda que incipientes, de arrefecimento. Tanto os indicadores do mercado de trabalho formal do Caged quanto do mercado geral da PNAD apontam para um reaquecimento do mercado de trabalho no mês de abril.
Primeiramente, o Caged registrou criação líquida de 257,5 mil postos de trabalho formais no mês, vindo significativamente melhor que a mediana das projeções de mercado (170,5 mil, Broadcast+) e próximo do teto das projeções de 267,4 mil. A robustez do desempenho de abril fica ainda mais evidente quando analisamos a série com ajuste sazonal que registrou uma criação líquida de 224,7 mil vagas no mês, ficando significativamente acima da média mensal do ano passado de 140,0 mil vagas, corroborando a avaliação de que o resultado foi bastante robusto.
Na mesma direção, os números da PNAD surpreenderam o mercado ao registrar uma taxa de desemprego de 6,6% da força de trabalho no trimestre móvel encerrado em abril. Este resultado veio significativamente melhor do que o esperado pelo consenso de mercado (6,9%, Broadcast+) e abaixo do piso das estimativas de 6,7%. Com este resultado, a taxa de desemprego ficou no menor nível da série histórica para um mês de abril. Na série com ajuste sazonal, a taxa de desemprego recuou de 6,5% para 6,3%, o menor nível já registrado na série histórica, interrompendo uma sequência de 4 trimestres móveis de estabilidade e sugere um reaquecimento do mercado de trabalho no mês de abril.
Avaliamos que tanto os números do Caged quando da PNAD reforçam a nossa perspectiva de que o mercado de trabalho deve permanecer aquecido ao longo do ano, apesar da política monetária mais contracionista, contribuindo para que o processo de arrefecimento da economia ocorra de maneira mais lenta do que o antecipado.
Nesse contexto, por mais que o Banco Central em suas últimas comunicações e falas dos diretores tenha deixado subentendido que a sua inclinação hoje é de interromper o ciclo de alta de juros, os fundamentos seguem indicando que o processo de convergência da inflação à meta segue bastante desafiadora. A ausência de sinais de arrefecimento da economia sugere que a política monetária deve permanecer em território contracionista por um período mais prolongado do que o esperado.