Ontem foi divulgado o IPCA15 de junho, índice que funciona como uma prévia do IPCA oficial de junho, a ser divulgado em julho. A ideia do IPCA15 é antecipar o comportamento da leitura oficial do IPCA, de modo que os agentes de mercado e os formuladores de política econômica possam calibrar mais cedo melhor suas decisões.
Seguindo o comportamento das últimas leituras, o IPCA15 de junho mostrou um qualitativo um pouco mais favorável do que nossa projeção. Alimentos registraram queda sazonal usual, com proteínas subindo em um ritmo moderado. Ao mesmo tempo, bens industriais seguiram com baixa variação, em linha com um cenário de câmbio apreciado e commodities em baixa.
Serviços foram a principal surpresa baixista na leitura, puxado por passagem aérea, item de elevada volatilidade, e que repete a variação do IPCA15 no IPCA. Similarmente, o aluguel, item de peso extremamente elevado, também repete e registrou variação modesta nesse IPCA15. Em suma, o IPCA15 contratou um IPCA de junho bem mais moderado do que as projeções indicavam. Por outro lado, itens sensíveis à demanda, como serviços intensivos em trabalho e restaurantes, seguiram pressionados sem sinal claro de mudança de tendência.
Na margem, a inflação como um todo está arrefecendo, mas ainda em nível inconsistente com o cumprimento do teto da meta de 4,5%. Se seguir na mesma tendência, seremos enquadrados no intervalo de tolerância no primeiro trimestre de 2026. No entanto, essa projeção conta que demais impulsos fiscais não voltarão a estimular a demanda agregada de forma significativa, um fator de risco atualmente subestimado, em nossa opinião.
Em nossa avaliação, o que de fato será uma surpresa é se a política fiscal não reverter essa tendência com impulsos fiscais futuros, episódio idêntico ao ocorrido entre 2023 e 2024. Nesse período, o Banco Central alcançou uma desinflação impressionante ao longo de 2023, que foi inteiramente revertida ao longo de 2024. Para 2026, alguns impulsos já estão até contratados, como precatórios, isenção do imposto de renda e crédito consignado.
Ao nosso ver, política fiscal expansionista é a única razão pela qual temos uma inflação acima de 5,0% mesmo sob um cenário de câmbio apreciado, commodities em baixa e taxa de juros extremamente elevada. O remédio amargo está funcionando, mas o paciente deve seguir à risca as recomendações médicas ou nunca se recuperará completamente.