O IPCA de dezembro registrou uma variação de 0,52% m/m, superando a expectativa de 0,47% m/m e ficando próxima ao consenso de mercado. O índice fechou o ano de 2024 com uma inflação de 4,8%, acima do teto da meta de inflação e em linha com nossa expectativa a partir de outubro de 2024.
Alimentação no domicílio fechou o ano com variação de 8,2%, categoria com maior contribuição altista no índice cheio. A alta é puxada por carnes, que aceleraram no fim do ano devido à virada do ciclo do boi. Produtores agora precisam aguardar a maturação de novos bovinos adultos para ofertar ao mercado. Por outro lado, foi um ano de elevadas quedas para milho e soja no mercado internacional, mas que foram mais que contrabalanceadas pelas depreciações cambiais. Em 2024, carnes aumentaram 20,84%, aves e ovos 6,50%, café 38,88% e óleo de soja 29,22%. Para 2025, esperamos alta de 6,9%.
Nos serviços, encerramos 2024 com aumento de 4,8%, puxado por alimentação fora do domicílio (bares e restaurantes), que apresentou aumento de 6,3%. Apesar da alta da carne, esse movimento é reflexo de uma demanda aquecida, uma vez que bares e restaurantes costumam ser rapidamente substituídos na cesta de consumo quando há queda na renda real. Com efeito, serviços intensivos em trabalho (estética, mão-de-obra, empregado doméstico, entre outros) corroboram esse argumento, ao registrarem aumento de 5,5%, categoria vinculada exclusivamente ao mercado de trabalho. Vale destacar também que passagens aéreas (item com muita volatilidade) registraram variação de -22,22% em 2024, trazendo os serviços para baixo de 5,0%. Esperamos alta de 5,8% na categoria para 2025.
Para os industriais, o número de dezembro trouxe grande surpresa. A categoria fecha o ano em 2,9%, enquanto nossa projeção era de 2,6%, sendo toda essa diferença explicada exclusivamente pelo mês de dezembro. Assim como alimentos, industriais são muito sensíveis ao câmbio e também mais sensíveis à demanda. Com perspectivas de deterioração cambial e manutenção da demanda, esperamos piora na categoria ao longo do ano. Nesse contexto, nossa projeção é de 4,4% para 2025.
Por fim, os administrados “salvaram” o IPCA anual de ficar acima de 5,0%, uma vez que no último mês do ano a bandeira tarifária de energia elétrica mudou de amarela para verde, devido às quantidades de chuvas acima do esperado no final do ano. Ainda assim, a Petrobrás não deve segurar a defasagem indefinidamente em 2025. Esperamos aumento de 6,0% na categoria para o ano.
Foi um ano onde os componentes de oferta (com exceção das carnes) e itens voláteis atuaram em direção favorável e ainda assim encerramos 2024 acima do teto da meta de inflação. Em nossa avaliação, o número de dezembro corrobora o cenário de dinâmica inflacionária altista, sob um mercado de trabalho resiliente, câmbio depreciado e dívida crescente, acelerando a dinâmica inflacionária, apesar da elevação da taxa de juros. Esse efeito será intensificado se as condições de oferta não forem tão favoráveis esse ano. Esperamos um IPCA de 5,7% para 2025 e 6,5% para 2026.