Na última semana, os indicadores econômicos dos Estados Unidos reforçaram a percepção de enfraquecimento do mercado de trabalho e abriram espaço para cortes de juros pelo Federal Reserve já na reunião de setembro. O relatório de empregos de agosto (payroll) mostrou criação líquida de apenas 22 mil vagas, número muito abaixo das expectativas do mercado, de 75 mil, e das projeções dos analistas, de 85 mil.
Além disso, revisões baixistas nos meses anteriores praticamente eliminaram os ganhos recentes, resultando em saldo líquido de apenas 1 mil postos no período de junho a agosto. A taxa de desemprego avançou de 4,2% para 4,3%, aproximando-se da taxa considerada natural pelo CBO, de 4,4%, enquanto os salários por hora cresceram 0,27% no mês e 3,69% em relação ao ano anterior, mantendo a trajetória de desaceleração. Outros indicadores, como os relatórios do JOLTS e do ADP, reforçaram o quadro de perda de dinamismo no emprego.
Paralelamente, o Livro Bege do Fed destacou que tarifas vêm pressionando os custos de insumos, mas as empresas têm encontrado dificuldade em repassar integralmente esses aumentos de preços. O documento também chamou atenção para os efeitos da política imigratória do governo, que reduziu a oferta de trabalhadores, contribuindo para manter a taxa de desemprego relativamente estável mesmo diante da menor demanda. Além disso, observou-se que a parcela da renda destinada ao consumo vem recuando, já que os salários não têm acompanhado o avanço da inflação.
O conjunto desses sinais reforça a visão de que a economia norte-americana está em processo de desaquecimento. Com mercado de trabalho mais fraco, moderação nos salários e consumo perdendo fôlego, o Fed tem condições de iniciar o ciclo de cortes de juros já em setembro, sem que a decisão seja interpretada como leniência em relação ao combate à inflação. Assim, ganha força o consenso de que a reunião da próxima semana marcará o ponto de inflexão da política monetária, com espaço para novos cortes adicionais ao longo do ano.