Economia

Publicado em 03 de Julho às 18:33:12

Mercado de trabalho norte americano resiste, mas com piora da composição

A criação líquida de 147 mil empregos em setores não-agrícolas (payroll) nos Estados Unidos em junho surpreendeu o mercado (Bloomberg), que esperava a adição de apenas 106 mil novas vagas. Por outro lado, as aberturas mostraram que o setor privado contribuiu com apenas 74 mil postos no mês, resultado aquém das expectativas (100 mil). Por sua vez, o setor público contribuiu com 73 mil postos mesmo com o governo federal tendo fechado vagas (-7 mil) pelo quinto mês consecutivo.

Olhando o mercado de trabalho pela ótica da demanda por mão de obra (JOLTS) também pôde-se observar robustez, com a recuperação do ímpeto dos empresários em realizar novas contratações após uma redução parcial das incertezas no curto prazo. Além do número de abril ter sofrido uma revisão altista de 7,391 milhões para 7,395 milhões, os postos de trabalho em aberto no mês de maio saltaram para 7,769 milhões, vindo bem acima do esperado (7,3 milhões, Bloomberg).

Por outro lado, a única métrica a exibir fraqueza foi a do ADP (criação de vagas no setor privado), que mostrou destruição de 33 mil postos em junho quando as estimativas apontavam para a criação de 98 mil (Bloomberg),evidenciando a grande disparidade que pode existir entre dados do mercado de trabalho observados sob essa métrica e pelo payroll.

Métricas como a taxa de desemprego e a taxa de participação da força de trabalho caminharam em direções opostas, com ambas surpreendo para baixo. A primeira saiu de 4,2% para 4,1% quando a expectativa era de elevação para 4,3%, e a segunda recuando de 62,4% para 62,3% quando se esperava estabilidade. A diminuição da oferta de trabalho permitiu que a taxa de desemprego cedesse mesmo com o número total de geração de vagas se mantendo em patamar similar ao dos meses anteriores, com o recuo de 222 mil no número de desocupados sugerindo que muitos indivíduos deixaram de procurar emprego no mês.

Já os salários aumentaram menos do que o esperado tanto na métrica mensal (0,2% m/m vs. 0,3% m/m) como anual (3,7% a/a vs. 3,8% a/a).Essa leitura dá sequência a uma trajetória de arrefecimento que já se estende por seis meses e que, embora lenta, mantém a desinflação dos salários em uma direção que é compatível com uma inflação cheia convergente para a meta de 2,0%.

De maneira geral, apesar da grande maioria dos dados referentes ao mercado de trabalho terem vindo fortes, o fato de metade (73 mil de 147 mil) dos empregos gerados em junho terem vindo dos governos regionais (estaduais e locais) e de setores como educação e saúde terem sido responsáveis pela geração de 51 mil postos mostra a perda de fôlego do setor privado mais cíclico, num sinal mais claro de desaceleração. A despeito disso, o mercado de trabalho americano permanece numa boa situação por ora, permitindo ao FED focar mais no mandato de inflação e muito provavelmente retomar o ciclo de afrouxamento monetário em algum momento desse 2º semestre do ano.

Acesse o disclaimer.

Leitura Dinâmica

Recomendações