A divulgação do Livro Bege nessa quarta-feira (23/04), publicação que mede as condições econômicas de momento nos doze distritos do Fed (banco central norte-americano), mostrou um possível momento de virada na situação econômica dos EUA.

Os níveis recordes de incerteza que assolam a economia global desde o anúncio das tarifas recíprocas por parte do governo Trump no dia 2 de abril, até agora só haviam impactado negativamente as sondagens (“soft data”), sem atingir os dados da economia real (“hard data”). Contudo, esse cenário parece estar mudando, conforme visto no Livro Bege referente ao mês de abril. Dos 12 distritos do Fed, 4 registraram quedas modestas da atividade econômica, enquanto 3 relataram uma performance econômica lateralizada, e apenas 5 apresentaram um ligeiro crescimento.

Uma surpresa positiva veio de veículos, cujas vendas robustas foi algo disseminado em todas as regiões do país. Outro ponto de destaque se deu na venda de imóveis residenciais. Entretanto, em ambos os casos isso se deu por um movimento de caráter antecipatório ao início da validade das novas tarifas de importação, que deve encarecer tanto as peças necessárias para a fabricação dos veículos, como a madeira de origem canadense amplamente utilizada nas construções.

Em relação a inflação, os aumentos de preços foram disseminados em todos os distritos, indicando que pressões de custos já estariam sendo repassadas para o consumidor final. Os salários, por sua vez, cresceram em ritmo lento, embora o nível de emprego tenha sofrido pouca alteração, com o maior número de demissões se dando no setor público. Esses movimentos eram de certa forma esperados por conta do enxugamento dos cargos governamentais promovido pela nova administração republicana e pelo fato de, historicamente, o mercado de trabalho ser sempre o último a reagir ao ciclo econômico.

Em sua totalidade, apesar dos dados contidos no Livro Bege apontarem para um momento de possível inflexão do ciclo, uma recessão continua não sendo o nosso cenário base para a economia americana dado a nossa visão de que o atual cenário de incerteza global elevada sofrerá uma melhora substancial quando os primeiros acordos comerciais bilaterais forem anunciados.