Economia

Publicado em 02 de Maio às 08:30:36

O calcanhar de Aquiles do Banco Central

Os dados do mercado de trabalho divulgados na última terça-feira reforçam a percepção de robustez da economia neste primeiro trimestre, mesmo diante de um cenário marcado por uma política monetária contracionista. Em primeiro lugar, os números da PNAD Contínua do IBGE apontaram que a taxa de desemprego ficou em 7,9% da força de trabalho no trimestre móvel encerrado em março, vindo abaixo do consenso de mercado (8,1%). Esta resiliência fica mais evidente na série de desemprego dessazonalizada que saiu de 7,5% para 7,4% na passagem de fevereiro para março.
Além disso, cabe destacar o crescimento em termos reais do rendimento médio real e da massa de rendimentos que avançaram 4,0% a/a e 6,6% a/a, respectivamente, que na nossa avaliação é um ritmo inconsistente com o cumprimento da meta de inflação de 3,0%. Cabe destacar que este movimento de alta dos salários não reflete apenas a expansão da população ocupada, mas também a sua composição que vem registrando aumento da formalização no emprego do setor privado, que historicamente é responsável por pagar maiores salários.
Na mesma direção, os dados de emprego formal do Caged de março apontaram para um saldo líquido de 244,3 mil postos de trabalho formais, resultado que superou a mediana das projeções de mercado (190,0 mil). Este resultado refletiu a combinação entre a admissão de 2,3 milhões e o desligamento de 2,0 milhões de trabalhadores formais no período. Vale ressaltar que a composição das demissões reforça a percepção de aquecimento do mercado de trabalho, visto que a proporção dos desligamentos voluntários no mês chegou a 35,8% do total de demissões, significativamente acima da média observada entre 2018-2019 de 23,3%. A alta desse indicador em conjunto com a continuidade da queda da taxa de desemprego sugere que os trabalhadores estão conseguindo se realocar no mercado de trabalho com uma certa flexibilidade.
Se, por um lado o bom desempenho do mercado de trabalho adiciona um viés positivo para o crescimento da economia, por outro, este se mostra um fator de risco relevante para a convergência da inflação, sobretudo de serviços, para a meta. Nesse contexto, o forte desempenho do mercado de trabalho é um ponto de atenção a ser monitorado pelo Copom e demanda maior cautela na condução da política monetária, visto que tem o potencial de ser o calcanhar de Aquiles do Banco Central.

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