Economia

Publicado em 20 de Março às 20:50:05

O caminho acidentado da desinflação

Na tarde dessa quarta-feira (20/03), o comitê de política monetária do banco central norte-americano (FOMC) decidiu manter a taxa de juro americana (Fed Funds rate) inalterada no intervalo entre 5,25% e 5,50% ao ano. A decisão veio em linha com o consenso de mercado, de modo que, a surpresa positiva ficou por conta da não alteração do comunicado em relação ao da reunião imediatamente anterior. Ou seja, o comitê optou por não sinalizar uma deterioração do cenário inflacionário, mesmo diante dos números mais elevados nos dois primeiros meses de 2024, sendo a ausência deste conteúdo um indicativo de que o Fed segue se aproximando do início do ciclo de corte de juros.

A coletiva de imprensa do presidente do Fed, Jerome Powell, confirmou essa interpretação. Durante a rodada de perguntas e respostas, quando questionado sobre a deterioração da dinâmica inflacionária corrente, o presidente enfatizou que segue confiante com o processo de arrefecimento da inflação em direção à meta de 2%. Além disso, argumentou que a surpresa inflacionária no início do ano pode ter ocorrido por conta de fatores sazonais e que apenas duas leituras mais negativas não são suficientes para apagar o progresso obtido ao longo do ano de 2023. Nesse sentido, argumentou que os números vão de encontro com a percepção de o processo de desinflação nos EUA ocorrerá por uma via acidentada, com sobressaltos podendo ocorrer ao longo do caminho.

No Brasil, o banco central deu continuidade ao processo de ajuste da taxa básica de juros (Selic), que foi reduzida pela sexta vez seguida em 50 pontos-base desde que o Copom iniciou o ciclo de corte de juros em agosto de 2023, saindo de 11,25% para 10,75% ao ano. De modo geral, o comunicado apresentou um viés mais “hawkish”, com as projeções de preços administrados para 2024 e 2025 sendo revisadas para cima, e com o Copom admitindo que as medidas de inflação subjacentes estão situadas acima da meta de 3,0%. Além disso, passou a comunicar que não só o cenário internacional, como também o cenário doméstico, é fonte de incerteza para a condução da política monetária.

Por fim, na mudança mais aguardada do comunicado, os membros do comitê deixaram de se comprometer com cortes de 50 pontos-base nas duas reuniões subsequentes, passando a garantir apenas mais um corte dessa magnitude. Na nossa visão, o intuito disso não é necessariamente o de diminuir a magnitude de corte de juros para 0,25 p.p. duas reuniões à frente, mas sim o de aumentar os graus de liberdade na condução da política monetária por parte do banco central à medida que a Selic se aproxima da sua taxa terminal.

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