Os números mais recentes do boletim Focus de expectativas de mercado seguem apontando para a desancoragem das expectativas de inflação para prazos mais diversos, ao mesmo tempo em que a projeção para o crescimento de 2026 foi revisada para cima. Na nossa avaliação, as expectativas sistematicamente acima da meta e a resiliência da economia brasileira devem contribuir para que o processo de convergência da inflação a meta seja bastante desafiador.
Apesar do recuo de 4 bps na expectativa para a inflação ao final de 2025, as expectativas para 2026 e 2027 seguiram estacionadas em 4,5% e 4,0%, respectivamente, ao passo em que a expectativa para 2028 se elevou de 3,81% para 3,85%. Na nossa avaliação, o comportamento das expectativas sugere que a estratégia de encerrar o ciclo de alta de juros na reunião de maio se mostra insuficiente para promover a convergência da inflação à meta.
O comunicado da última reunião por si só já foi responsável por elevar de maneira significativa a probabilidade de que o BC tivesse encerrado o ciclo de altas na reunião de maio. Diversos pontos do documento apontavam nessa direção entre elas: i) A caracterização do balanço de riscos inflacionários como equilibrado; ii) a ênfase dada à prescrição de uma política monetária em patamar significativamente contracionista por um período controlado vis-à-vis uma política monetária mais contracionista; e iii) a caracterização do estágio atual de aperto monetário como avançado, cujos impactos ainda serão observados e demandando cautela.
As falas mais recentes das autoridades do Banco Central, reafirmam a mensagem de que a estratégia a ser adotado é de juros mais altos por mais tempo. Em particular, destacamos a fala do presidente Gabriel Galípolo, sinalizou que, no atual cenário, o período de contracionismo da política monetária ganha mais peso do que o nível da contração em si para a convergência da inflação à meta. Para o presidente, dado o estágio da contração e o nível de incerteza em torno do cenário, o BC precisa preservar alternativas, tendo como pilares da sua comunicação a “cautela” e a “flexibilidade”. Além disso, quando questionado sobre a possibilidade de o BC optar por encerrar o ciclo mesmo com projeções que apontam para a inflação fora da meta no horizonte relevante, Galípolo optou por reforçar que a política monetária possui defasagens e é natural que o BC precise avaliar se a política se encontra em patamar suficiente restritiva.
Embora as chances de uma alta adicional na taxa Selic tenham se reduzido drasticamente no período entre reuniões, seguimos com a avaliação de que o BC deveria avançar em território contracionista, com uma elevação adicional de 0,25 p.p. na reunião de junho, levando a taxa Selic para 15,0% a.a. Na nossa avaliação, a composição ainda desfavorável da inflação corrente em conjunto à desancoragem das expectativas de inflação segue impondo grandes desafios à convergência da inflação a meta. Soma-se a isso, as medidas de impulso à demanda que vêm sendo anunciadas pelo governo e o mercado de trabalho aquecido que em conjunto tendem a manter a demanda aquecida nos próximos trimestres, constituindo importantes vetores altistas para a inflação.
Além disso, em um ambiente marcado pelo ceticismo por parte dos investidores em relação ao comprometimento do atual BC em promover a convergência inflacionária, entendemos que a autarquia deveria optar por surpreender o mercado, que já precifica a Selic terminal em 14,75% a.a., com uma alta adicional na reunião de junho. Este movimento aliado a uma comunicação mais dura podem fazer com que haja um choque de credibilidade, reduzindo a desancoragem das expectativas para inflação mais longas e contribuir para que o processo de convergência seja menos desafiador.