A ata da última reunião do Copom não foi suficiente para convencer os investidores de que os votos dissidentes da última reunião da autarquia se deram por razões técnicas. O tom do documento veio em linha com o comunicado da semana anterior, reforçando a necessidade de cautela diante de um cenário marcado por expectativas de inflação desancoradas e piora do cenário fiscal. Apesar desse consenso entre os diretores, o grupo dissidente, que defendia a manutenção do forward-guidance, argumentou que o seu voto refletia a avaliação de que o custo reputacional de romper com o guidance superava o seu benefício.
A desancoragem adicional das expectativas desde então sinaliza que o argumento utilizado para defender o voto em 0,5 p.p. foi insuficiente para que o mercado descartasse o risco de interferência política no processo decisório, minando a credibilidade do Banco Central, que passa a ter a maioria indicada pelo atual governo a partir do próximo ano. Dada a significativa preocupação do Executivo com a desaceleração da economia e o uso intensivo da política fiscal para evitar esse cenário, o risco de interferência política sobre o BC, para que se adote uma política monetária mais acomodatícia, não pode ser descartado.
Nesse contexto de desancoragem das expectativas de inflação, incertezas em torno do início da flexibilização de juros nos EUA, deterioração do risco fiscal e elevação do risco de interferência política no Copom, avaliamos que o Banco Central se encontra em uma posição desfavorável para novos cortes de juros. Na nossa avaliação, a ausência de drivers que façam as expectativas recuarem, o BC anunciará o fim do ciclo de corte de juros, de modo que, a Selic permanecerá em 10,5% a.a. na reunião de junho.