Até a semana passada era praticamente certo que o ciclo de aperto monetário na Zona do Euro se estenderia, pelo menos, até setembro, abarcando mais duas altas de juros de 25 pontos-base. Mas o “pivot” do Banco do Central Europeu (BCE), momento em que a autarquia entende que a política monetária teria alcançado o patamar adequado para garantir a convergência da inflação para a meta, parece ter ocorrido mais cedo do que o esperado após as declarações mais “dovish” de dois diretores tidos como os mais “hawkish” do BCE.
O “yield” do título soberano alemão de 10 anos recuou 26 pontos-base no espaço de uma semana, de 2,65% para 2,39%. Além disso, as expectativas de que haja uma nova contração do PIB da Zona do Euro no segundo trimestre deve pesar sobre a decisão dos diretores do BCE de ainda promoverem uma alta adicional depois da que vai ocorrer nessa próxima semana de julho. A surpresa altista com o PIB dos EUA e o fato da Zona do Euro já se encontrar num quadro de recessão técnica deve contribuir para valorizar a moeda norte-americana frente ao euro. Isso ajudaria as exportações do bloco, cruciais para a sustentar a atividade, dado o grau de abertura econômica de várias economias da região.
Visto isso, apesar de a inflação se encontrar em patamar elevado e sem apresentar sinais claros que está convergindo para a meta, principalmente o núcleo (basicamente estável desde set/22), o BCE deve encerrar o ciclo de alta de juros mesmo com o juro real em patamar negativo. Por receio de desacelerar demais as economias do bloco, o que levaria a abertura dos “spreads” entre os títulos soberanos de vários países periféricos em relação aos papéis da Alemanha (benchmark), a autoridade monetária europeia não quer apertar demais a política monetária e correr o risco de repetir o ocorrido em 2011/12 durante a Crise da Dívida Europeia.