Economia

Publicado em 21 de Maio às 19:15:58

Os consensos e os dissensos dos diretores do Fed

A surpresa altista em termos de inflação nesse início de ano espantou não só o mercado como também muito membros do banco central norte-americano (Fed), forçando-os a revisar as suas trajetórias para a taxa básica de juros (Fed Funds rate) nos Estados Unidos daqui em diante. Esse repique inflacionário deixou a sensação que o Fed não sabe ao certo o porquê de a inflação estar se comportando dessa forma.

A comunicação também não tem ajudado, com o presidente do Fed, Jerome Powell, e os diretores não estarem transmitindo uma mensagem uníssona ao mercado. Apesar de continuarem a se comprometer publicamente em levar a inflação de volta para a meta de 2,0%, muitos agentes de mercado ainda se perguntam a que variável (atividade ou inflação) os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) estão dando mais peso na função de reação do banco central: se eles estão mais inclinados a aceitar uma inflação mais próxima de 3,0% de modo a não impor muitos sacrifícios à atividade econômica, ou se estão de fato comprometidos com a meta.

Já dentre os claros pontos de dissidência entre os diretores está a taxa neutra de juros real e a decisão de deixar aberta ou não a possibilidade para novas altas na Fed Funds rate. Alguns membros do FOMC chamaram atenção para o risco de a política monetária não estar tão restritiva como o imaginado previamente, dando a entender que a taxa neutra de juros pode ter se elevado. Além disso, recentemente, os diretores da ala mais “hawkish” (dura) do Fed voltaram a cogitar novas elevações na taxa de juros caso o processo desinflacionário continue a surpreender negativamente, possibilidade que havia deixado de ser aventada no final de 2023.

Em suma, apesar de haver alguma concordância em torno dos temas centrais, os dissensos ainda superam os consensos entre os diretores do Fed. Ademais, a preferência por uma abordagem mais dependente dos dados (“data dependent”), sem a possiblidade de se comprometer com uma trajetória predeterminada para a taxa de juros (“forward guidance”) por conta da indeterminação do processo inflacionário, contribui para deixar a condução futura da política monetária norte-americana ainda mais incerta.

Em vista desse cenário mais desafiador em termos do combate à inflação, enxergamos espaço para apenas um corte de juros de 25 pontos-base na Fed Funds rate este ano (ocorrendo somente na reunião de dezembro), com o risco de o Fed ser forçado a postergar o ciclo de afrouxamento monetário ainda mais, deixando o seu início apenas para 2025.

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