PIB dos EUA recua no 1º trimestre em decorrência de importação recorde
A primeira leitura do PIB dos EUA do 1º trimestre de 2025 veio marginalmente abaixo da mediana das projeções dos analistas (-0,2% t/t, Bloomberg), registrando variação de -0,3% t/t a uma taxa anualizada. Essa contração do PIB já era esperada em função do forte movimento de antecipação de importações que foi induzido pela intenção da nova administração republicana em elevar as tarifas.
As importações, que entram como uma subtração no cálculo do PIB, apresentaram uma forte alta de 41,3% t/t nesse 1º trimestre do ano. Conforme o esperado, a maior parte dessa importação se deu em bens (50,9% t/t), embora a de serviços também tenha registrado aumento (8,6% t/t). As exportações cresceram, ainda que em ritmo bem mais modesto (1,8% t/t, ante -0,2% t/t).
Na composição dos gastos com consumo pessoal, observamos um fenômeno que já era de certa forma antecipado por nós: um desvio de demanda do consumo de bens (“tradables”) para o consumo de serviços (“non-tradables”), uma vez que os primeiros seriam prejudicados pelas tarifas de importações enquanto os últimos não, num movimento contrário ao que foi visto anos atrás após a eclosão da pandemia de covid-19.
Já em relação aos gastos do governo, passamos a observar tendências opostas entre os gastos a nível federal (-5,1% t/t, ante 4,0% t/t) e os dispêndios a nível estadual e local (0,8% t/t, ante 2,5% t/t). Isso se deve ao fato de a força tarefa liderada por Elon Musk no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) estar restrita apenas a esfera federal.
Essa primeira leitura do PIB do 1º trimestre de 2025 deixa sinais mistos para o banco central norte americano (Fed). Se por um lado tivemos surpresas baixistas no PIB (-0,3% t/t vs. -0,2% t/t), por outro tivemos tanto a taxa anualizada da inflação cheia (3,7% t/t vs. 3,1% t/t) como do núcleo (3,5% t/t vs. 3,1% t/t) medidas pelo PCE (métrica favorita do Fed) surpreendendo para cima.
A materialização de um cenário de atividade mais fraca com inflação mais alta impõe um dilema para o mandato duplo do Fed de emprego e inflação. O fato de não sabermos de antemão qual dos dois o Fed iria priorizar deixa ainda mais dúvidas acerca da condução da política monetária no futuro, num cenário que já é de incerteza recorde por conta da nova política tarifária.
Por conta disso, achamos que o mais prudente é o Fed manter a taxa de juros inalterada até que o prazo de suspensão das tarifas recíprocas dado pelo governo Trump de 90 dias expire em meados de julho. A partir desta data, a autoridade monetária teria uma melhor estimativa do novo nível médio de tarifas aplicadas pelos Estados Unidos, permitindo cálculos mais precisos do impacto das mesmas sobre a inflação e as demais variáveis econômicas.