Ontem foi divulgado o PIB do primeiro trimestre de 2024 que registrou alta de 0,8% t/t em relação ao último trimestre de 2023, vindo ligeiramente melhor do que o consenso de mercado que apostava em uma alta de 0,7% t/t (Broadcast+). Com este resultado e as revisões das leituras anteriores, o PIB opera 7,8% acima do nível pré-pandemia (4T/19) e deixa um carrego estatístico de crescimento de 1,0% para o ano de 2024.
Os principais destaques da divulgação ficaram por conta dos avanços no consumo das famílias e na formação bruta de capital fixo, que avançaram 1,5% t/t e 4,1% t/t, respectivamente. O primeiro reverteu a queda de 0,3% t/t observada no último trimestre de 2023, alcançando o nível mais elevado da série histórica e reflete, na nossa avaliação, os efeitos positivos do mercado de trabalho aquecido e a expansão fiscal ao longo dos últimos trimestres. Por sua vez, o avanço da FBCF dá continuidade à alta de 0,5% t/t observada no período anterior. Apesar do bom desempenho neste início de ano, avaliamos que o cenário para investimentos ainda demanda cautela, devido à reprecificação do ciclo de política monetária global e à elevação das incertezas domésticas nos últimos meses, que podem atuar como importantes limitadores da propensão a investir dos empresários.
Pelo lado da oferta, cabe destacar o bom desempenho do setor de serviços, que deu continuidade à sequência de 15 trimestres consecutivos de alta, alcançando o nível mais elevado da série histórica e refletiu altas disseminadas entre as atividades que compõem o grupo. Cabe destacar que, apesar da base de comparação já bastante elevada, o setor segue apresentando um bom desempenho, sugerindo que a atividade econômica segue resiliente, beneficiando-se do mercado de trabalho de aquecido e da expansão das políticas fiscais implementadas pelo governo nos últimos trimestres.
A taxa de investimento como proporção do PIB saiu de 16,1% no quarto trimestre de 2023 para 16,9% no primeiro trimestre de 2024. Apesar da recuperação neste início de ano, a taxa de investimento ficou abaixo dos 17,1% registrados no mesmo período do ano anterior e ficou estável em 16,5% na média móvel de quatro trimestres findos nos três primeiros meses de 2024. Na nossa avaliação, a recuperação do investimento no início de 2024 refletiu a perspectiva que era mais positiva no período em relação a extenso do ciclo de afrouxamento monetário e a base de comparação mais baixa devido às quedas acumulados no ano passado. Dessa forma, avaliamos que essa recuperação deve ser interpretada com uma certa cautela, em linha com a deterioração do cenário, sobretudo da elevação das incertezas políticas/econômicas nos últimos meses.
Os números divulgados ontem corroboram nossa expectativa de crescimento para o ano de 2024 de 2,2%, já incorporando os efeitos da tragédia no Rio Grande do Sul (-0,3 p.p.) sobre a dinâmica da atividade econômica ao longo dos próximos trimestres. No nosso cenário, temos como expectativa que o consumo seja o principal driver de crescimento no ano, fato que vem sendo confirmado pelos números do mercado de trabalho que sugerem um superaquecimento do mesmo. Entretanto, ressaltamos que há um elevado grau de incerteza em torno da nossa projeção de crescimento, visto que as estimativas sobre os efeitos do desastre no Sul ainda são preliminares.