A desancoragem das expectativas para a inflação no horizonte relevante da política monetária continua. Segundo a pesquisa Focus, todas as expectativas para a inflação entre 2024 e 2027 estão acima das respectivas metas e em ascensão. O que tem surpreendido analistas e investidores é o fato de que as expectativas continuam aumentando concomitantemente ao aumento das expectativas para a SELIC.
Este é um fato preocupante. Em primeiro lugar, porque indica que os agentes econômicos começam a perder confiança na capacidade da política monetária de controlar a taxa de inflação. Ou seja, os agentes estão começando a “precificar” uma situação de dominância fiscal.
Segundo, apesar do aumento do diferencial de juros entre o Brasil e Estados Unidos, o Real continua pressionado, diante dos adiamentos do anúncio do pacote de controle de gastos públicos.
Uma interpretação alternativa é que, devido às políticas fiscal e parafiscal fortemente expansionistas, a taxa neutra de juros na economia brasileira, a taxa que mantém a inflação estável, está em trajetória de elevação. O problema é que com taxas de juros acima de 13,00% ao ano em todos os vencimentos, esta é uma trajetória explosiva para a dívida pública.
Diante deste cenário, alguns analistas começam a sugerir que, para evitar que o país chegue à dominância fiscal, a política monetária teria de aceitar uma taxa de inflação acima da meta de 3,0% ao ano nos próximos anos, acelerando levemente. A questão é como controlar as expectativas para a inflação na medida em que os investidores comecem a antecipar este comportamento acomodatício da política monetária.