Na manhã de ontem, tivemos a divulgação da ata da reunião de julho do Copom. Na nossa avaliação, o documento veio mais hawkish do que o comunicado da semana anterior, sinalizando uma maior preocupação da diretoria no que tange ao comportamento dos fundamentos da economia e em relação ao balanço de riscos para a dinâmica inflacionária.
Um dos principais destaques da Ata ficou por conta do parágrafo em que o Comitê, unanimemente, avalia que o cenário se mostra mais desafiador com a presença de mais riscos altistas do que baixistas para a inflação e com um estágio de desinflação mais dependente da dinâmica da inflação de serviços, que possui maior inércia. Nesse sentido, a atual resiliência da atividade, sobretudo do mercado de trabalho com sinais de superaquecimento, se mostra um importante fator de risco para a dinâmica inflacionária nos próximos meses.
Entretanto, apesar de avaliar que há um número maior de riscos altistas do que baixistas para a inflação, o Comitê, em sua maioria, não avalia que o balanço de riscos está assimétrico. Essa avaliação indica que os diretores acreditam que a recente deterioração dos fundamentos da economia pode ser revertida nos próximos meses, de modo que, por ora o comitê seguirá cauteloso e vigilante em garantir que a inflação atinja a meta no horizonte relevante, o primeiro trimestre de 2026.
Nesse contexto, o Comitê, unanimemente, avalia que o momento corrente é de maior cautela e de acompanhamento mais diligente dos condicionantes da inflação, sob a ótica de duas estratégias. De um lado, se a manutenção da Selic no patamar atual por um período suficientemente longo será capaz de levar a inflação para a meta no horizonte relevante. De outro, o Comitê, unanimemente, sinalizou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação para a meta.
Avaliamos que o documento apresentado hoje pelo BC, apesar de ser mais duro do que o comunicado, ficou em linha com o que era esperado pelo mercado na decisão da última quarta-feira. Nesse sentido, acreditamos que a Ata deixa a porteira aberta para possíveis altas de juros caso não haja uma reversão da piora dos fundamentos nos últimos meses. De modo geral, entendemos que a Ata reforça a percepção de que o Comitê optou por aguardar o início do ciclo de afrouxamento monetário nos EUA e analisar o seu impacto sobre os fundamentos, sobretudo o câmbio, antes de incorporar a deterioração dos fundamentos na dinâmica inflacionária. Dessa forma, embora a porteira esteja aberta, o cenário base ainda é de manutenção da Selic em 10,5% a.a. até o final de 2024.