Ontem foi divulgada a ata da reunião de novembro do Copom. Nesse sentido, o documento trouxe consigo maiores esclarecimentos em relação à decisão de acelerar o ritmo de aperto monetário de 0,25 p.p. para 0,5 p.p. naquela reunião. Apesar da decisão ter sido amplamente esperada pelo mercado, a divulgação da ata era bastante aguardada diante da possibilidade de conter alguns sinais, ainda que indiretos, de decisões futuras.
Entre os principais destaques, vale mencionar a continuidade da avaliação de que o cenário externo permanece desafiador. As incertezas em relação aos EUA, sobretudo de mudança da política econômica sob a gestão de um novo governo, tornam ainda menos previsível o processo de desinflação e desaceleração da atividade econômica. Ainda sobre o cenário internacional, foi destacado o papel das políticas fiscais como propulsoras da demanda no pós-pandemia, gerando aumento da dívida pública e maiores preocupações com a sustentabilidade fiscal a nível global.
No que tange ao cenário doméstico, a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho seguem demandando uma maior atenção do BC, visto que o ritmo dinâmico de crescimento da atividade, em um contexto marcado por um hiato positivo, torna mais desafiador o processo de convergência da inflação para a meta.
Além disso, foi reforçada a necessidade de promoção de uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparentes, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos, como forma de contribuir para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros. Mencionou-se que a redução do crescimento dos gastos, principalmente de forma mais estrutural pode ser indutor de crescimento econômico no médio prazo por meio de seu impacto nas condições financeiras, no prêmio de risco e na melhor alocação de recursos.
Por fim, foi ressaltada que a conjuntura marcada por uma inflação corrente, medida pelo índice cheio ou por diferentes medidas de núcleo, em níveis acima da meta, o dinamismo da atividade econômica, o hiato positivo, as expectativas de inflação desancoradas e a depreciação recente do câmbio tornam a convergência da inflação à meta mais desafiadora. Nesse contexto, em caso de uma deterioração adicional das expectativas o Comitê sinalizou que pode levar a um prolongamento do ciclo de aperto da política monetária.
Avaliamos que a ata deixa a porta aberta para os próximos passos a serem tomados pela diretoria, inclusive de aceleração do ritmo de aperto monetário caso haja uma deterioração adicional dos fundamentos econômicos. Entretanto, entendemos que, dado o nível de incerteza, por ora, o comitê deve manter a estratégia atual de altas de 0,5 p.p. na taxa de juros. Dessa forma, continuamos sob a expectativa de que o Comitê elevará a taxa Selic até 12,50% a.a. no segundo trimestre de 2025 como forma de tentar promover a convergência da inflação para a meta.