O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BCB) optou por reduzir o ritmo de queda da taxa básica de juros de 50 para 25 pontos base, numa resolução que veio em linha com o consenso do mercado. Contudo, a decisão deixou de ser unânime, repetindo o placar de 5 a 4 visto na reunião de agosto (a que iniciou esse ciclo de corte de juros), sendo que desta vez com o voto de desempate do presidente, Roberto Campos Neto, indo para uma redução de apenas 25 ao invés de 50 pontos base.
Uma possível justificativa para a redução do ritmo de corte de juros de 50 para 25 pontos base, mesmo a despeito da inflação corrente dos últimos doze meses estar em trajetória de queda, é que, com o horizonte relevante de política monetária passando a ser totalmente focado no ano de 2025, as expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus saíram de 3,5% para 3,6% e as projeções de inflação do Copom no seu cenário de referência saltaram de 3,2% para 3,3%, ambas ampliando a desancoragem.
No placar apertado, um ponto que chamou atenção foi o fato de que todos os quatro novos diretores indicados pelo governo votaram pela manutenção do corte em 50 pontos base. Isso contribui para reforçar a percepção da formação de uma bancada mais “dovish” entre os membros do Copom daqui em diante, sugerindo que o processo de transição da presidência do banco central pode não ser tão suave assim.
Apesar da divergência entre os diretores no tocante ao ritmo de corte, houve consenso em relação a visão de escalada das incertezas globais e do cenário doméstico estar demandando mais cautela em vista da atividade econômica resiliente e das expectativas de inflação ainda desancoradas.
Adicionalmente, um ponto curioso foi que a maioria simples a favor do corte de 25 pontos base também foi suficiente para gerar um Comunicado de teor consideravelmente “hawkish”, com os argumentos a favor da repetição de um corte de 50 pontos base não parecendo nesse primeiro momento. Em vista disso, a divulgação da Ata dessa reunião ganha ainda mais relevância.
Por fim, os membros do Copom optaram por abandonar o “forward guidance” de vez, deixando em aberto a decisão de política monetária para a reunião de junho. A despeito disso, ainda antevemos mais três reduções de 25 pontos base na taxa Selic, que deve encerrar o ano em 9,75% a.a.