O Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado ontem corroborou com o cenário de manutenção do atual ritmo de afrouxamento monetário de 0,5 p.p. nas próximas reuniões do Copom. O documento enfatizou que há um elevado grau de incerteza em torno do cenário prospectivo, refletindo tanto uma conjuntura externa quanto interna mais incertas.
Em relação à economia global, o Banco Central reforçou que o cenário marcado por renovados receios sobre o setor de incorporação na China e taxas de juros mais elevadas nas principais economias combinado à possível materialização de riscos altistas relevantes decorrentes da guerra na Ucrânia, a chegado do El Niño e novas redução de oferta da OPEP podem contribuir para manter a inflação mais pressionada no curto/médio prazo.
No que diz respeito à conjuntura doméstica, o cenário referência apresentado pelo Banco Central aponta para o aumento da probabilidade de a inflação ficar acima do limite superior da meta em 2023, que passou de 61% no relatório anterior para 67% no relatório de ontem. A piora do cenário inflacionário decorre dos seguintes fatores: i) trajetória mais baixa da Selic na pesquisa Focus; ii) elevação do preço do petróleo; iii) indicadores de atividade mais fortes do que o esperado.
Soma-se a isso, a revisão do hiato do produto projetado para o final do ano que passou de -1,5% para -0,8%, sinalizando uma economia mais aquecida decorrente de um mercado de trabalho e atividade mais resilientes. A combinação desses fatores impede um afrouxamento mais significativo da taxa de juro e impõe risco à concretização de um cenário mais otimista no que diz respeito ao nível da taxa terminal.
Durante a coletiva de imprensa pós divulgação do relatório, tanto o presidente Roberto Campos Neto quanto o diretor de Política Econômica Diogo Guillen reforçaram as sinalizações nesta direção. O primeiro indicou que a barra para acelerar o ritmo de corte da Selic se encontra ligeiramente mais alta do que no relatório anterior, ao passo em que o segundo atentou que a política monetária permanecerá contracionista em um patamar suficiente para o cumprimento da meta de inflação.
Por fim, Roberto Campos Neto destacou que teria “valor esperado negativo” a autoridade monetária tentar comunicar para o mercado qual seria a taxa de juros terminal ao final desse ciclo de cortes por conta das grande grau de incerteza que ainda permeia o cenário, de modo que qualquer comentário da autarquia a esse respeito seria mais um ruído do que efetivamente um sinal.