Na última semana, tivemos em Washington as tradicionais reuniões do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, responsáveis por reunir os principais agentes da economia e das finanças globais. Nossa equipe macro teve a oportunidade de participar dos principais encontros. A seguir daremos continuidade à notícia de ontem, dando ênfase nos principais destaques no que tange as reuniões que debateram os rumos da política monetária brasileira.
As falas dos dirigentes puderam ser interpretadas como ligeiramente dovish, refletindo um discurso que prevê uma maior cautela no que diz respeito ao atual ciclo de aperto da política monetária. Em primeiro lugar, tanto o presidente Campos Neto quanto o diretor de política econômica Diogo Guillen buscaram dar menos peso ao modelo de pequeno porte do BC, responsável por projetar o nível da taxa Selic necessária para estabilizar a inflação, sinalizando que não há uma relação mecânica entre o modelo do BC e com o ciclo de alta de juros.
Soma-se a essas falas as menções aos sinais incipientes de desaceleração da economia, em função da desaceleração dos principais setores da economia no mês de agosto, e da avaliação de que há um excesso de prêmio de risco precificado na curva de juros. Por fim, cabe destacar que aparenta haver um certo otimismo por parte da diretoria em relação aos anúncios a serem anunciados de ajustes fiscais pelo lado da despesa que contribuam para promover uma harmonização entre políticas monetária e fiscal.
Nesse contexto, embora nossas simulações sugerirem a necessidade de um ciclo de aproximadamente 300 bps de juros para levar a inflação para a meta, as falas dos diretores e do presidente Campos Neto sugerem que será adotada uma estratégia mais cautelosa tanto em termos do tamanho do ciclo quanto em sua velocidade. Dessa forma, avaliamos que altas de 75 bps na taxa de juros estão fora de cogitação por ora e o ciclo de alta de juros deve ser mais próximo de 200 bps do que os 300 bps que o modelo sugere.
Por fim, apesar das sucessivas falas do presidente Roberto Campos Neto e dos diretores do BC nas últimas semanas afastando a possibilidade de que um cenário de dominância fiscal esteja ocorrendo no Brasil, o grande destaque dos painéis ficou por conta do questionamento por parte dos investidores estrangeiros se o Brasil entrou nesta trajetória. Há uma interpretação de que o ciclo de aperto monetário estar sendo acompanhado pela abertura da curva de juros é um sintoma de dominância fiscal. Nesse contexto, dadas as incertezas e as complexidades de entender o cenário brasileiro, Hedge Funds globais optam por olhar economias emergentes mais próximas, o que deve continuar pesando sobre o desempenho do real.