Desde a última reunião do Copom, as expectativas de inflação seguem em trajetória de desancoragem. Este movimento, na nossa avaliação, reflete o ambiente mais adverso percebido pelos agentes de mercado em função de um cenário externo mais incerto, deterioração da situação fiscal brasileira e, principalmente, a perda de credibilidade do Banco Central. O arranhão na imagem da autarquia ocorreu ao final da última reunião do Copom, na qual ficou evidente que, apesar da significativa deterioração do cenário doméstico e internacional, os diretores indicados pelo atual governo seguiram optando por um corte mais agressivo da taxa Selic. Dessa forma, o mercado passou a atribuir um maior risco de leniência inflacionária nos próximos anos, período no qual a maioria dos indicados ao BC será do governo atual.
No boletim Focus divulgado ontem, as expectativas de 2024 e 2025 saíram de 3,80% e 3,74% para 3,86% e 3,75% ao ano, respectivamente. O destaque ficou por conta da desancoragem adicional da expectativa para 2026 que, após 46 semanas estacionada em 3,50%, saltou para 3,58%. Além disso, a expectativa para a taxa Selic atualizada na semana passada saiu de 10,0% para 10,25% ao ano, convergindo para a precificação da curva de juros que atribui uma probabilidade de cerca de 20% de concretização de um corte de 25bps na próxima reunião.
Em suma, apesar da dinâmica inflacionária corrente mais benigna, a reprecificação dos cortes de juros nos EUA, a piora do risco fiscal brasileiro e o risco de uma condução mais leniente da política monetária demandam a adoção de uma postura mais firme do Copom na reunião do mês de junho. Nesse sentido, avaliamos que o Comitê se encontra em uma posição sem espaço para promover novos cortes da Selic. Entretanto, assim como na reunião anterior, os olhares do mercado estarão focados na distribuição dos votos, isto é, se teremos novamente a formação do G4.