A melhora do saldo da balança comercial na passagem de fevereiro para março não foi suficiente para distensionar as contas externas, cujo déficit em transações correntes nos últimos 12 meses passou a superar o influxo líquido de capitais pela métrica do Investimento Direto no País (IDP). Isso ocorreu a despeito de o IDP ter sido capaz de financiar, com folga, o déficit em transações correntes no mês de março.
Embora isso já fosse de certa forma esperado devido ao fato de o déficit em conta corrente já vir superando o IDP mensal ao longo da maior parte do segundo semestre de 2024, a continuidade dessa situação das contas externas brasileiras pressionadas nesse início de 2025 coincide com a disparada da incerteza no cenário externo por conta da nova política comercial norte-americana, que pode aumentar a volatilidade e até mesmo interromper os fluxos globais de capital num cenário mais extremo de paralisia do comércio.
Isso faz com que o Brasil não possa contar com o IDP como uma fonte segura de recursos para fazer frente aos elevados déficit em transações correntes, o que reforça a importância do rebalanceamento da economia brasileira na direção de um crescimento mais sustentável e em linha com o potencial, sob pena das contas externas se tornarem mais um fator, além da questão fiscal, a pressionar a taxa de câmbio.
Esse fato também contribui para jogar luz no tema dos chamados “déficits gêmeos”, situação na qual uma deterioração nas contas do governo (déficit fiscal) leva a uma piora das contas externas (déficit em conta corrente).