Uma semana intensa. No cenário internacional, foi divulgado o crescimento do PIB da economia americana no primeiro trimestre de 2024 (1,6%), abaixo das expectativas (2,4%) e forte desaceleração em relação ao quarto trimestre de 2023 (3,4%). Foram também divulgados o Índice de Preços de Gastos com Consumo (PCE) do primeiro trimestre de 2024 e do mês de março de 2024, que surpreenderam negativamente.
O PCE mostrou forte aceleração no primeiro trimestre, atingindo 3,4%, enquanto o núcleo do índice subiu de 2,0% no quarto trimestre de 2023 para 3,7% no primeiro de 2024. O PCE do mês de março foi mais bem comportado, com variação de 0,3% no mês e 2,7% em termos anualizados, mas acima das expectativas que apontavam para 2,6%, e o núcleo no índice atingiu 2,8% (expectativas de 2,7%). A média móvel trimestral anualizada do PCE está rodando no nível de 4,4%, muito acima da meta para a inflação de 2,0%.
Nossa avaliação é que o Federal Reserve deverá manter a taxa básica de juros constante na reunião desta semana e, a menos que ocorra uma mudança importante no comportamento da inflação, não deverá promover quedas de juros em 2024.
O cenário interno mostrou forte deterioração. O governo divulgou o Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para 2025, com aumento das metas de déficit primário para 2025 e 2026. A meta de superávit passou de 0,5% do PIB e 1,0% do PIB nestes anos, para 0,0% e 0,5% do PIB, respectivamente. Além da mudança de metas, as projeções sobre o comportamento da economia brasileira para os próximos anos baseadas em hipóteses tão otimistas que alguns analistas as consideraram “maquiagem”.
Ao mesmo tempo, o governo entrou com recurso no STF contra a desoneração da folha de pagamento dos 17 setores da economia e das pequenas cidades, o Ministro Zanin foi escolhido relator e concedeu liminar, o que gerou forte reação do Presidente do Congresso, deteriorando ainda mais a relação entre o Executivo, o Judiciário e o Legislativo. Neste contexto, a possível aprovação da PEC que recria os quinquênios para os membros do judiciário (ao custo estimado de R$ 40 bilhões/ano) é bastante preocupante, ainda que improvável.
O efeito sobre as expectativas foi imediato, com aumento das expectativas para inflação, câmbio, SELIC e relação dívida/PIB, o que gerou um movimento de redução da expectativa de corte da SELIC na próxima reunião do Copom de 0,5% para 0,25% e aumento das projeções de SELC no final do atual ciclo de queda, tendo algumas casas estimado uma SELIC terminal de dois dígitos. Como nosso cenário já incorporava parte destes fatores, mantivemos nossa expectativa de queda da SELIC na próxima reunião do Copom em 0,5 p.p. e aumentamos a taxa terminal de 9,5% ao ano para 9,75% ao ano. Mas com viés de alta. Turbulência à vista.