Apesar dos dados da inflação de maio dos EUA terem surpreendido positivamente o mercado, os principais indicadores financeiros brasileiros se descolaram da performance global dos ativos no dia de ontem, refletindo a continuidade da aversão ao risco por parte dos investidores diante do crescente risco de deterioração fiscal doméstica.
A leitura do CPI de maio apontou para estabilidade de preços no mês, vindo melhor do que o consenso de mercado que tinha como projeção mediana alta de 0,1% m/m. Na mesma direção, o núcleo de inflação registrou alta de 0,2% m/m, também configurando uma surpresa positiva em relação às expectativas (0,3% m/m). No acumulado em 12 meses, o índice cheio e o núcleo recuaram de 3,4% a/a e 3,6% a/a para 3,3% a/a e 3,4% a/a, respectivamente, apontando para a volta do processo de convergência da inflação americana para a meta.
O bom desempenho da inflação americana no mês de maio foi reconhecido pelo presidente do Fed, Jerome Powell, durante a conferência de imprensa que sucedeu o comunicado que decidiu manter a taxa de juros do Fed inalterada em 5,25%-5,50% a.a. Segundo o presidente, mais leituras de inflação como as de ontem vão na direção de aumentar a confiança da autarquia para iniciar o ciclo de corte de juros ainda neste ano.
Mesmo diante de notícias positivas advindas do exterior, os ativos brasileiros tiveram um desempenho desastroso. O IBOVESPA registrou queda de 1,4%, o dólar avançou a R$ 5,41 e a curva de juros abriu mais de 20 bps em diversos vértices. Estes movimentos refletiram a percepção de aumento do risco fiscal, frente a ruídos de um possível processo de fritura interna do ministro Fernando Haddad, inclusive de rumores de uma possível queda do mesmo, e de falas da ministra Simone Tebet que reforçam a percepção de que o ajuste fiscal será feito sem que haja cortes de despesas.
Em suma, o que aparentava ser uma quarta-feira tranquila, após bom desempenho da inflação americana, que proporcionou um momento bastante positivo dos ativos domésticos, logo se transformou um uma montanha-russa de eventos, trazendo fortes emoções para os investidores.