Economia

Publicado em 25 de Junho às 10:09:54

Uma ata dura para um comunicado duro

Ontem, foi disponibilizada a ata do último comitê de política monetária, referente a elevação de 0,25 p.p. na taxa Selic. Na ata, consta uma descrição breve das pautas tocadas na reunião, bem como conclusões, consensos e riscos. Assim como no comunicado, os agentes de mercado investigam cuidadosamente a descrição da ata buscando alguma pista sobre um possível viés do comitê, tentando avaliar as chances de subir ou descer juros em breve.

Diferentemente do comunicado, dificilmente há um consenso público sobre o tom da ata entre os agentes de mercado. Alguns entendem que a ata apenas estendeu o que estava escrito no comunicado, já outros entendem um tom um pouco mais leniente. Mas, em linha com o comunicado, parece haver um consenso de que juros mais elevados por mais tempo vieram para ficar.

Em nosso entendimento, a ata teve um tom um pouco menos duro do que o comunicado, apesar de que essa impressão é comum na maioria das vezes. Na ata, há a menção de certa moderação nos setores sensíveis ao ciclo econômico. Particularmente, não vemos isso com tanta clareza nos dados, uma vez que o consumo das famílias, investimento, mercado de trabalho e crédito seguem resilientes e sem sinais claros de inversão de tendência. Inclusive, os dois primeiros voltaram a surpreender no primeiro trimestre de 2025 depois de um arrefecimento considerável no quarto trimestre de 2024.

Ainda assim, o tom geral da ata segue de fato em linha com o comunicado. Não há menção de uma possível ajuda do câmbio no arrefecimento inflacionário, nem mapeamentos adicionais de impactos baixistas vindos do cenário internacional. Em nossa avaliação, isso configura uma postura dura da autoridade monetária, uma vez que este poderia inclusive utilizar desses argumentos para explicar a inflação mais benigna na margem. Em nossa avaliação, atitude correta do comitê, uma vez que a raiz do problema se concentra na demanda agregada, que ainda está pujante.

A única coisa que segue nos incomodando é que, no cenário do comitê, o balanço de riscos é aparentemente simétrico. Em nossa visão, em diante de uma política fiscal expansionista e pré-ano eleitoral, há um risco elevado de que impulsos fiscais voltem a estimular a demanda, desfazendo o trabalho da política monetária. Apesar disso, o comitê acerta no diagnóstico e na decisão de política monetária. 

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