A interrupção do progresso com o processo de desinflação nos Estados Unidos, a escalada do conflito no Oriente Médio e a mudança das metas fiscais do governo de 2025 em diante, contribuíram para deixar a trajetória futura da política monetária bem mais incerta tanto nos Estados Unidos como no Brasil.
Ao longo dessa semana, as falas mais duras (“hawkish”) de muitos diretores do FED (banco central norte-americano), assim como de seu presidente, Jerome Powell, marcaram, de vez, a virada de discurso da principal autoridade monetária global.
Embora nos Estados Unidos o cenário base tenha se deslocado de um que contemplava um corte de juros iminente para outro que reconhece que a Fed Funds Rate terá que permanecer no patamar atual (entre 5,25% e 5,50%) por mais tempo, o simples fato de alguns diretores voltarem a deixar a porta aberta para uma nova alta de juros caso os dados assim exijam, já configura um forte indicativo de que as leituras piores de inflação desse primeiro trimestre deixaram de ser vistas como transitórias e decorrentes de uma sazonalidade desfavorável de início de ano que logo passaria, e passaram a ser interpretadas como uma piora real da dinâmica inflacionária.
Em vista desse novo cenário, o presidente do Banco Central do Brasil (BCB), Roberto Campos Neto, passou a vislumbrar quatro cenários possíveis para a política monetária brasileira daqui em diante.
No primeiro deles, teríamos uma dissipação das incertezas atuais que pairam sobre o ambiente tanto doméstico quanto externo, o que permitiria o cumprimento do “forward guidance” da reunião do Copom de março, havendo, assim, uma redução de 50 pontos-base da taxa Selic em maio. Num segundo cenário, essas mesmas incertezas permaneceriam elevadas, confirmando uma mudança de cenário em relação ao qual a autoridade monetária condicionou o guidance, resultando num corte de juros menor em maio, de apenas 25 pontos-base. Já uma terceira possibilidade se daria pela ótica do impacto sofrido pelas principais variáveis macroeconômicas e pela alteração do balanço de riscos do Copom, com alterações nas expectativas Focus forçando uma reprecificação da trajetória esperada da taxa de juros. Por fim, o último cenário contemplado pelo presidente do BCB seria um no qual as incertezas se elevariam ainda mais, levando a uma completa mudança de conjuntura.
Não obstante, por ora, ainda continuamos a enxergar um corte de juros de 50 pontos-base na próxima reunião de maio, seguido de três cortes de 25 pontos-base nas reuniões de junho, julho e setembro, com a taxa Selic encerrando 2024 em 9,50% ao ano.