Em outubro, as vendas do varejo voltaram a surpreender positivamente. O volume vendido no chamado varejo restrito avançou 0,5% em relação a setembro, vindo no teto das projeções de mercado e acima tanto do consenso, que apontava leve queda, quanto da nossa expectativa de alta mais moderada. O resultado reverteu a queda do mês anterior e recoloca o setor em terreno positivo no início do quarto trimestre. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, as vendas cresceram 1,1%, também acima do que se esperava, reforçando a ideia de que o consumo das famílias segue resistente, mesmo em um ambiente de juros elevados.
Quando olhamos o varejo ampliado – que inclui veículos, materiais de construção e atacado de produtos alimentícios -, o movimento é semelhante. As vendas subiram 1,1% em outubro, engatando a quarta alta seguida e superando tanto o teto das projeções de mercado quanto nossa estimativa. A média móvel trimestral mostra uma tendência de aceleração da atividade varejista na margem, o que indica um fim de ano mais firme do que o inicialmente projetado. Apesar da política monetária contracionista pesar sobre segmentos mais sensíveis ao crédito, o impulso vindo da política fiscal expansionista e de um mercado de trabalho ainda aquecido tem ajudado a sustentar o nível de atividade.
O avanço de outubro foi bastante disseminado entre os segmentos pesquisados. Setores como equipamentos de informática e comunicação, combustíveis e lubrificantes, e móveis e eletrodomésticos se destacaram com altas mais expressivas, revertendo quedas recentes. Itens ligados ao dia a dia das famílias, como artigos farmacêuticos e hipermercados e supermercados, também registraram crescimento, ainda que mais moderado. Do lado negativo, apenas o grupo de tecidos, vestuário e calçados voltou a cair. No agregado, o varejo restrito opera hoje quase 10% acima do nível pré-pandemia, enquanto o varejo ampliado está cerca de 6% acima, o que mostra que o consumo ainda se mantém em patamar elevado.
Na nossa avaliação, o dado forte de varejo em outubro não sinaliza um novo ciclo de expansão robusta, mas reforça a leitura de que o arrefecimento da economia brasileira será bastante gradual. O descompasso entre uma política monetária ainda restritiva e uma política fiscal estimulativa, somado à resiliência do crédito e ao efeito do pagamento de precatórios no segundo semestre, tende a amortecer a perda de fôlego da atividade ao longo dos próximos trimestres. À luz das informações disponíveis, mantemos nossa projeção de crescimento do PIB em 0,2% t/t no quarto trimestre de 2025 e de 2,3% no ano, com a economia desacelerando, mas sem um “freio de arrumação” abrupto.
