O Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA teve crescimento de 2,1% em 2022, em relação ao ano anterior, fechando em US$ 25 trilhões. Embora o resultado tenha sido positivo, ele indica uma desaceleração da economia no país. Afinal, em 2021, o mesmo indicador havia apresentado uma alta superior, de 5,9% (US$ 23 trilhões).
Esse é um reflexo de mudanças importantes que aconteceram na economia dos Estados Unidos e do mundo nos anos recentes. Além disso, o cenário pode ter impactos tanto nos países desenvolvidos quanto nos mercados emergentes.
Quer entender melhor esse quadro? Com este artigo, elaborado pelo nosso time da Genial Investimentos, você conhecerá os detalhes desse contexto.
Fatores que explicam a desaceleração do PIB dos EUA
O declínio da atividade econômica dos EUA não aconteceu de maneira imediata e nem se deve a apenas um fator. Considerando que essa é a maior economia do mundo, a mudança de rota no desenvolvimento dela tende a ocorrer apenas a partir da conjunção de diversos gatilhos, certo?
Nesse sentido, desde meados de 2022 os EUA têm observado condições que afetaram o rumo da economia. Veja quais são os fatores que explicam essa situação!
Aceleração da inflação
Em junho de 2022, a inflação acumulada dos Estados Unidos atingiu 9,1%. Essa foi a maior taxa de avanço de preços em 40 anos, além de ser um número muito acima da meta de 2%, estabelecida pelo Federal Reserve (Fed) por meio do Federal Open Market Committee (FOMC).
Até então, o Fed considerava o fenômeno inflacionário como algo transitório, ligado a problemas de oferta temporários causados pela interrupção das atividades na pandemia. No entanto, a percepção com o passar do tempo de que a inflação também possuía fortes componentes de demanda fez com que o país mudasse a sua política monetária, tornando-a mais rígida.
Além disso, o índice elevado de inflação é responsável por diminuir a capacidade de consumo das famílias. A queda no volume de compras leva a uma demanda menor em diversos setores, afetando a geração de riquezas e, consequentemente, o PIB.
Guerra entre Rússia e Ucrânia
Embora o recorde inflacionário tenha sido atingido em junho de 2022, a alta generalizada nos preços se manteve consolidada nos meses seguintes nos Estados Unidos. Em partes, isso se deve ao aumento de 15% no custo de energia, o maior em 41 anos.
Essa situação está diretamente relacionada à guerra entre Rússia e Ucrânia. Em fevereiro de 2022, o Governo russo iniciou uma invasão em território ucraniano. Desde então, a Ucrânia foi apoiada por países europeus e pelos Estados Unidos.
Entre as medidas adotadas para evidenciar esse apoio estão as sanções econômicas envolvendo a compra de energia da Rússia. Como o país é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, isso elevou o custo do barril no mercado internacional, com impacto na economia global. Logo, a guerra entre os países também teve um papel relevante para a desaceleração econômica dos EUA.
Aumento da taxa de juros
Mesmo diante da guerra e da inflação alta, o principal impacto no PIB americano foi causado pelo aumento da taxa de juros nos EUA. Em março de 2022, o Fed fez o primeiro movimento nesse sentido, seguido por outras sete elevações até março de 2023.
Os picos desses aumentos aconteceram entre junho e novembro de 2022, quando ocorreram quatro altas consecutivas de 0,75 ponto percentual, cada. Ao final de 2022, a taxa já era a maior dos últimos 15 anos.
Na prática, o aumento nessa taxa é determinante para o funcionamento da economia. Com juros mais elevados, o crédito fica mais caro e o acesso mais difícil — esse é um desestímulo ao consumo, impedindo que as empresas realizem novos investimentos, por exemplo. Esses efeitos se refletem, portanto, na desaceleração econômica.
Quadro macroeconômico dos EUA no primeiro trimestre de 2023
Tão importante quanto entender as justificativas para a desaceleração econômica dos EUA é analisar qual é a situação dos principais indicadores do mercado. No primeiro trimestre de 2023, alguns dados macroeconômicos se destacaram e podem trazer vislumbres quanto ao médio e longo prazo.
Na sequência, confira um panorama desse quadro!
Taxa de juros
Durante o primeiro trimestre de 2023, ocorreram duas reuniões do Fed. A primeira do ano aconteceu em 1° de fevereiro, quando a taxa foi elevada em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 4,50% a 4,75% ao ano.
Em 22 de março, ocorreu um novo aumento de 0,25 ponto percentual. A decisão levou a taxa para a faixa de 4,75% a 5,00% ao ano, encerrando o trimestre nesse patamar.
Inflação
Outro dado essencial para conhecer o cenário macroeconômico do país no trimestre envolve a inflação. Em janeiro, o aumento do índice foi de 0,5%. Já em fevereiro, a elevação foi de 0,4%, levando a uma inflação de 6% em 12 meses.
Em março, o índice desacelerou, com aumento de apenas 0,1%, levando a uma taxa anualizada de 5%. Embora a inflação ainda estivesse distante da meta definida pelo Fed, ela aparentava estar cedendo à política monetária implementada.
Ao mesmo tempo, isso não significa que o Federal Reserve interromperá ou mesmo reverterá as altas na taxa de juros americanas. De acordo com o presidente da instituição, Jerome Powell, a entidade fará tudo o que for necessário para trazer a inflação para a meta definida.
Produção industrial
Para compreender o ritmo da economia dos Estados Unidos, também é interessante acompanhar o volume de produção industrial, já que a manufatura corresponde a mais de 11% da economia norte-americana. Considerando os resultados do primeiro trimestre de 2023, a produção industrial cresceu apenas 0,2%, com a taxa anualizada.
Isso indica um enfraquecimento geral da indústria americana, embora ela ainda cresça a taxas mais lentas. Esse resultado também se relaciona à política do Fed, já que a redução no consumo leva a uma diminuição na produção, considerando a demanda menor.
Taxa de desemprego
Um dos dados preferidos do Fed para acompanhar o cenário macroeconômico dos EUA é a taxa de desemprego. Em março de 2023, esse índice se manteve em 3,5%, com o total de desempregados somando 5,8 milhões.
Com a política monetária contracionista, o esperado seria que houvesse ainda mais demissões. Porém, há uma percepção de que o mercado de trabalho tem se mostrado mais resiliente que o imaginado.
No entanto, esse comportamento pode levar ao aumento dos salários e, consequentemente, da inflação. Diante disso e da possibilidade de se manter a política monetária, ainda há uma perspectiva de que os números do desemprego nos Estados Unidos aumentem.
Impactos da desaceleração do PIB na economia americana
Quando o crescimento do PIB perde força, ou mesmo quando esse dado se torna negativo, a economia do país é a principal afetada. No caso dos EUA, o cenário que se desenha desde a metade de 2022 já provoca reflexos significativos.
Continue a leitura para saber quais podem ser os efeitos da desaceleração do PIB dos EUA!
Redução do consumo
Uma das consequências da desaceleração do PIB dos EUA — que também é uma causa dessa situação — é a redução do consumo. Com o crédito mais caro devido às taxas elevadas, os consumidores tendem a gastar menos.
Em dezembro de 2022, por exemplo, o gasto realizado pelos consumidores diminuiu 0,2%, apesar do Natal. Ao mesmo tempo, a taxa de poupança de recursos aumentou 3,4% no período. Isso se deve ao receio com o futuro da economia, principalmente.
Também é possível observar uma queda na percepção do mercado consumidor, de modo geral. O índice da Universidade de Michigan que mede os sentimentos do consumidor caiu 5,4%, em março de 2023. Isso indica que as pessoas esperam ou pretendem gastar menos ao longo do tempo.
Queda da inflação
Os dados mostram que as incertezas do cenário levam as pessoas a consumir menos e a poupar mais. Apesar de esse fator ter impacto relevante na desaceleração do PIB dos EUA, ele pode levar a consequências desejáveis para uma possível retomada, como a diminuição da inflação.
Essa é uma questão especialmente relevante porque a queda na inflação costuma ajudar a proteger o poder de compra das famílias. No geral, as pessoas com baixa ou média renda são as mais afetadas pela alta dos preços, então a diminuição do ritmo de aumentos costuma ser positiva.
Aumento da dívida pública
Como você viu, um dos motivos para a desaceleração do PIB se relaciona ao aumento da taxa de juros do país. Esses juros são aplicados aos títulos públicos emitidos pelo Tesouro dos EUA. Com uma taxa mais alta, o Governo precisa pagar mais para captar recursos.
Na prática, essa situação tende a elevar a dívida pública, tornando mais caro também para o Governo tomar dinheiro emprestado. Isso pode afetar a capacidade de realização de investimentos públicos ou de custeio de diversos custos orçamentários.
Recessão econômica
Além dos demais efeitos, um aperto das condições financeiras é um bom indicador antecedente da ocorrência de uma recessão. Essa via tem impacto direto na atividade econômica através de uma piora nas concessões de crédito, por exemplo.
Embora o PIB americano ainda tenha crescido em 2022, essa evolução ocorreu em um ritmo menor que em anos anteriores. Se a situação se mantiver, há o risco de a economia se movimentar lateralmente, ou mesmo passar por uma depressão. Contudo, a intensidade e a duração de uma crise do tipo não podem ser antecipadas, já que isso depende de diversos fatores.
O fato é que esse cenário aumenta os riscos de a economia americana ficar enfraquecida por determinado período. Embora isso não signifique retornar aos níveis atingidos na pandemia, essa é uma questão que afeta o desenvolvimento dos negócios, por exemplo.
Efeitos dessa desaceleração para o resto do mundo
Não é apenas a economia americana que é afetada pela projeção ou consolidação de um PIB menor. Outros mercados também podem ser atingidos, e o potencial geral da economia global tende a ficar comprometido.
Conheça os efeitos do cenário em outros países!
Desaceleração do crescimento global
Na economia global, a perda de ritmo do PIB dos EUA e uma eventual recessão tendem a afetar as projeções de crescimento. Conforme a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), a economia global deverá crescer 2,6% em 2023 e 2,9% em 2024. Enquanto isso, o PIB dos EUA poderá ser de 1,5% em 2023 e de 0,9% em 2024.
Isso ocorre tanto pela importância comercial dos EUA quanto pela percepção de risco no mercado. Desse modo, a recuperação da economia americana é crucial para apoiar o crescimento do restante dos países.
Para os mercados emergentes, a situação costuma ser mais impactante. O motivo principal é a preferência dos investidores por um mercado sólido em momentos de crise, como os Estados Unidos. Logo, pode haver uma saída de investidores dos países em desenvolvimento, afetando o desempenho dessas economias.
Aumento da incerteza global
A situação econômica americana nesse contexto pode fazer com que o cenário global apresente um grau maior de incerteza. O motivo é a falta de previsibilidade sobre o comportamento da economia e como será a recuperação do mercado, se for o caso.
Como consequência, há um aumento na percepção de risco por parte dos investidores. Isso faz com que haja uma busca maior por investimentos mais seguros, tendendo a enfraquecer a renda variável global.
Outra questão para considerar é que essa incerteza pode aumentar o grau de volatilidade do mercado. Afinal, os investidores tendem a se movimentar com mais intensidade — tanto pelo rebalanceamento da carteira quanto pelo “efeito manada”, por exemplo.
Alteração de políticas monetárias
As instabilidades provocadas pela desaceleração do PIB dos EUA costumam interferir nas decisões dos bancos centrais de diversos países. Com isso, as políticas monetárias usadas para conter a inflação podem ser alteradas para evitar uma piora das suas economias.
Basta pensar no caso do Banco Central Europeu (BCE), que também promoveu aumentos na taxa de juros na Zona do Euro. Com o enfraquecimento da economia americana, essa política de alta ou de estabilidade da taxa de juros pode ser interrompida ou até revertida para impedir uma desaceleração ainda mais acentuada da economia.
Essa situação pode levar até a uma ação coordenada por parte dos bancos centrais para evitar um freio mais intenso no crescimento da economia global, fornecendo os estímulos necessários para as economias navegarem num cenário de maiores incertezas em decorrência de uma desaceleração da economia norte-americana.
Setores mais afetados por esse cenário
Apesar de toda a economia ser afetada pela desaceleração do PIB americano, existem alguns setores que sofrem efeitos mais intensos. Um dos exemplos disso é o varejo, que tende a perder força e até entrar em retração devido à queda de consumo do público.
Como você viu, o segmento de manufatura também costuma ser afetado. Esse é um efeito direto da redução do volume de vendas, pois as empresas fazem menos pedidos e a produção é diretamente impactada.
Ainda, vale considerar que o mercado imobiliário sofre, em especial, com as taxas de juros mais altas. Como elas encarecem o crédito, o acesso a financiamentos e outras linhas de crédito se torna mais difícil. Isso pode gerar uma diminuição nas vendas e, consequentemente, nos preços dos imóveis.
O desempenho do segmento de construção também pode ser afetado intensamente. Isso se deve a fatores como a diminuição dos investimentos realizados por empresas e a estagnação do mercado imobiliário.
Impactos sobre o investidor brasileiro
Além dos efeitos sentidos pelo restante do mundo, o desempenho da economia dos EUA pode afetar o mercado brasileiro e os investidores. Embora os impactos possam ser limitados devido à atuação das políticas adotadas pelo Governo, eles tendem a ser percebidos no ambiente doméstico.
A seguir, veja quais são as principais influências do cenário econômico dos Estados Unidos no Brasil!
Saída de investidores estrangeiros
Um dos efeitos mais perceptíveis da desaceleração do PIB americano é a saída de investidores estrangeiros, em especial da B3, a bolsa de valores brasileira. Essa situação se relaciona ao aumento dos juros da economia americana.
Como você viu, isso torna os títulos públicos dos EUA mais atraentes porque rendem mais, além de serem considerados os investimentos mais seguros do mundo. Logo, a possibilidade de ganhos maiores com baixo risco atrai os investidores para o mercado americano.
O cenário causa preocupação porque o capital estrangeiro compõe uma parte significativa da economia brasileira. Sem esses investimentos, as empresas nacionais podem ter menos acesso ao crédito, afetando o crescimento e a competitividade dos negócios.
Variação cambial
O forte aumento das taxas de juros empreendido ao longo de 2022 deu início a um movimento global de valorização do dólar, ao mesmo tempo em que visava desaquecer a atividade econômica para combater a inflação. Essa situação se relaciona à saída de investidores estrangeiros do mercado brasileiro.
Quando ocorre esse fluxo, a tendência é que haja menos dólares circulando no Brasil. Devido à lei da oferta e da demanda, pode haver um aumento no preço do dólar em reais. Isso é prejudicial para o mercado nacional porque pode contribuir para a alta da inflação, já que muitos insumos e produtos são importados.
O aumento do dólar também pode afetar o nível de endividamento brasileiro, já que muitos débitos estão atrelados à moeda americana. Com isso, a situação econômica do país pode ser prejudicada.
Maior instabilidade financeira
Uma diminuição no crescimento americano também faz com que o mercado brasileiro fique mais instável. Isso se deve, mais uma vez, à saída de investidores estrangeiros. Nesse caso, ocorre uma perda de liquidez na bolsa, já que o volume de negociação é menor.
Além disso, o Brasil pode sofrer efeitos semelhantes ao cenário global quanto à apreensão sobre a economia. Embora haja boas chances de a economia americana se recuperar, a turbulência do período interfere na percepção dos investidores.
Oportunidades geradas pela desaceleração econômica dos EUA
Embora a perda de força da economia americana tenha impactos negativos ou indesejáveis globalmente, esse quadro também pode trazer algumas oportunidades. Por isso, é importante entender essa questão para saber quais alternativas aproveitar.
Na sequência, saiba quais as possibilidades disponíveis para escolher as mais adequadas aos seus objetivos!
Compra de ativos descontados
Caso a desaceleração do PIB dos EUA gere uma retração econômica, a situação pode se tornar especialmente vantajosa para comprar ativos descontados. Isso é possível tanto nos Estados Unidos quanto em outros mercados.
A ideia é aproveitar os períodos de baixa para investir em empresas ou fundos com boas perspectivas de crescimento, mas que estão descontados no momento. Assim, há possibilidade de lucrar ao manter o investimento por um período maior, já que a tendência é que volte a ocorrer uma valorização.
Isso pode significar, por exemplo, investir em ações de empresas americanas no mercado externo ou de modo indireto, pela bolsa brasileira. Assim, você pode participar dos negócios com um investimento menor e, eventualmente, obter resultados positivos.
Essa estratégia também pode ser adotada no mercado nacional. É o caso de investir em ações descontadas de empresas brasileiras que sofrem mais com o cenário econômico nessas condições. Porém, em qualquer situação, a análise fundamentalista se faz necessária para embasar a tomada de decisão.
Dolarização do portfólio
Nesse caso, a intenção é se expor a ativos internacionais para ter a chance de lucrar com as movimentações da moeda norte-americana. Para tanto, também é possível realizar operações com derivativos, como o dólar futuro.
Ainda, a dolarização do portfólio pode ser útil para mitigar parte dos riscos. Em vez de manter o patrimônio exposto apenas ao mercado nacional, é possível diluir os riscos com ajuda do dólar.
Investimento em outras economias
Embora a maior parte das economias globais seja afetada pelo desempenho dos EUA, existem mercados que podem se beneficiar desse cenário. Países como China e Índia, embora sejam emergentes, têm boas perspectivas de crescimento para 2023 e 2024, segundo a OCDE.
Com isso, os ativos desses países tendem a se valorizar, servindo como uma oportunidade de rentabilização dos recursos diante de um ambiente incerto e com potencial limitado. Para esse investimento, entretanto, é necessário que os investidores entendam o que faz sentido para a própria estratégia.
Como você acompanhou, a desaceleração do PIB dos EUA pode ter efeitos tanto no mercado americano quanto na economia global. Considerando que o Brasil também pode ser impactado, é preciso buscar oportunidades nesse cenário, como a dolarização e a busca por ativos descontados ou com potencial de valorização.