O mercado financeiro passa por oscilações constantes que ocorrem por diversos motivos, como fatos governamentais e acontecimentos globais. Assim, índices como o Ibovespa (IBOV) podem apresentar mais volatilidade, como aconteceu em março de 2023.
O principal indicador da bolsa de valores brasileira, a B3, passou por um mês de variações intensas e chegou a operar abaixo dos 100 mil pontos em determinados pregões. Entretanto, existem diversas empresas que conseguiram registrar uma boa atuação no período.
Quais foram as principais altas do Ibovespa em março de 2023?
Veja quais foram as empresas com melhor atuação na bolsa em março de 2023:
Como você viu, o mercado de aviação se destacou em Março de 2023. Azul e Gol conseguiram aproveitar o cenário positivo do setor e registraram bons números. A valorização da AZUL4 foi de quase 70% ao longo do mês. Outra empresa forte da aviação é a Embraer. EcoRodovias e Meliuz completaram a lista das 5 principais altas.
Quais foram as principais baixas do Ibovespa nesse período?
Contudo, as instabilidades do mercado afetaram o desempenho de muitas empresas. Confira aquelas que registraram as maiores baixas na bolsa no mês de março de 2023:
Como é possível perceber, o setor de saúde foi bastante afetado no mês de março e três companhias do segmento registraram as maiores baixas: Hapvida, Qualicorp e Rede D’Or. Ao mesmo tempo, as quedas podem ter relação com a performance específica de cada empresa, e não com uma crise no setor.
Vale a pena destacar que a Americanas (AMER3) deixou de compor a carteira teórica do Ibovespa ainda em janeiro desse ano. Por esse motivo, as informações sobre suas ações não estão registradas neste artigo.
Relembrando grandes acontecimentos do 1T23
Os três primeiros meses de 2023 foram marcados por diversos períodos de oscilação para o Ibovespa. Por isso, vale a pena saber quais fatos causaram mais impactos ao longo do trimestre.
Início do novo Governo
Em 2023 houve o início de um novo Governo no Brasil. Entretanto, a mudança foi além de apenas uma troca de chefe do Poder Executivo, já que também incluiu uma substituição de ideais políticos.
Desde o segundo semestre de 2022, o Brasil viveu um período de intensa instabilidade política em meio a disputa eleitoral. Jair Bolsonaro (PL) buscava ser reeleito enquanto Lula (PT) tinha o objetivo de voltar à presidência após mais de uma década do encerramento do seu segundo mandato.
No segundo turno do pleito, Lula obteve a vitória pelo percentual mais próximo desde a redemocratização do país: 50,8% contra 49,2%. O período de adequação do novo Governo gerou diversos reflexos no mercado já durante a transição.
Os efeitos continuaram a ser sentidos durante o primeiro trimestre de 2023. Esse grau de oscilação é esperado, pois o mercado costuma reagir, positiva ou negativamente, diante de mudanças e novas posturas do poder público.
Discussões sobre a taxa de juros
Outro fator que marcou fortemente o mercado durante o primeiro trimestre foram as discussões sobre a taxa de juros no Brasil, a Selic. Ela foi tema central de diversos desentendimentos públicos entre o Governo Federal e o Banco Central (Bacen).
Isso acontece porque, desde 2021, a taxa Selic iniciou um ciclo de sucessivas elevações. Ela partiu de 2% ao ano até alcançar os 13,75% a.a. em agosto de 2022, após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).
A escolha pelo aumento da taxa Selic aconteceu em meio às altas do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial da inflação no Brasil. Isso acontece porque a taxa básica de juros é o principal mecanismo para conter as elevações.
Logo, as altas nos juros são realizadas para reduzir o fluxo de consumo e, consequentemente, puxar a inflação para baixo. Contudo, os juros mais altos geram desafios para pessoas e empresas, que terão mais dificuldades para acessar crédito.
Portanto, diversas discussões no primeiro trimestre do ano giraram em torno do percentual da taxa. Enquanto o Governo Federal espera a redução, o Copom manteve a Selic em 13,75%. Os desentendimentos chegaram a colocar em xeque a autonomia do Bacen.
Novo arcabouço fiscal
Também no âmbito do poder público, o novo arcabouço fiscal do Governo Federal movimentou o mercado. Ele é a proposta do Ministério da Fazenda para substituir o teto de gastos, que é o atual mecanismo de controle das contas públicas.
O novo arcabouço fiscal tem como objetivo mudar como o Governo lida com as despesas públicas. A proposta estabelece uma série de regras que visam garantir o equilíbrio das contas no longo prazo.
Entre as principais medidas previstas no arcabouço fiscal estão o estabelecimento de metas plurianuais e a criação de um fundo de estabilização fiscal. Também há a discussão que envolve adotar regras para a gestão da dívida pública.
Além disso, o novo arcabouço fiscal prevê a implementação de medidas para aprimorar a transparência na gestão das finanças públicas. Nesse caso, o objetivo é fortalecer os órgãos de controle interno e externo.
Segundo o Governo, a meta em torno do novo arcabouço fiscal é garantir a sustentabilidade das finanças públicas. Consequentemente, pode haver a promoção de um ambiente econômico mais estável e favorável ao crescimento e ao desenvolvimento do país.
A proposta do novo arcabouço fiscal se tornou pública no final de março após diálogos entre os Ministérios e a Presidência da República. Em um primeiro momento, o texto foi bem recebido pelo mercado.
Porém, a primeira versão recebeu críticas quanto à falta de clareza em torno de certos pontos, especialmente no que tange um eventual aumento na carga tributária. Vale destacar que o texto pode passar por alterações até ser aprovado pelo Congresso — o que ainda não tem data para acontecer.
Movimentações do dólar
A movimentação do dólar é outro fator de grande relevância para a economia — independentemente do período do ano. Afinal, a moeda norte-americana é mais relevante no comércio global e é vista como uma reserva de valor.
Para entender melhor, é interessante considerar exemplos. A valorização do dólar sobre o real pode tornar as exportações brasileiras mais competitivas, uma vez que os produtos brasileiros ficam mais baratos para os compradores estrangeiros.
Isso pode impulsionar a demanda por produtos brasileiros no exterior e ajudar a aumentar as receitas das empresas brasileiras que dependem das exportações. Por outro lado, a desvalorização do real em relação ao dólar pode aumentar o preço dos produtos e matérias-primas importados. Nesse sentido, podem ocorrer pressões inflacionárias na economia brasileira.
Outro ponto notável é referente aos juros. Com a Selic em quase 14% ao ano, o mercado interno pode se tornar mais atraente para investidores estrangeiros movimentarem dólares no Brasil.
Entretanto, houve um cenário desafiador que se mantém desde 2022: o aumento dos juros norte-americanos. Nos Estados Unidos, eles estão em patamares elevados, o que pode tornar investimentos nesse país mais atrativos, já que eles são mais seguros.
Esse complexo cenário levou o dólar a apresentar oscilações ao longo do primeiro trimestre do ano. A moeda chegou a superar os R$ 5,30 em certas ocasiões, mas também operou abaixo dos R$ 5,00 em outros períodos.
Ciclos de commodities
Também é relevante destacar que o ciclo de commodities no Brasil lidou com uma surpresa negativa já no primeiro trimestre: a identificação de um caso da doença da “vaca louca”. Isso impactou as exportações desse produto.
Essa é uma doença degenerativa do sistema nervoso central em bovinos, que pode ser transmitida aos humanos se a carne contaminada for consumida. Com isso, houve a suspensão de exportação de carne bovina para a China e outros países.
Nesse sentido, vale a pena ressaltar que a China é um mercado fundamental para a carne bovina brasileira. Como referência, o gigante asiático foi o destino de quase 40% das exportações do produto em 2017.
A suspensão temporária da exportação afetou negativamente a indústria de carne brasileira. Além disso, o mercado já enfrentava desafios relacionados à pandemia e aos embargos impostos por outros países.
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