A inflação exerce grande influência na economia do país e no cotidiano da sua população. Mas você sabia que existem diferentes tipos de inflação e cada um deles pode gerar reflexos distintos no mercado?
É a partir da compreensão dessas classificações que você poderá mensurar melhor o impacto da inflação no seu cotidiano e pensar em estratégias para se proteger. Inclusive, saber mais sobre os tipos de inflação pode ajudá-lo a fazer investimentos melhores no mercado financeiro.
O que é inflação?
A inflação é o processo de aumento constante dos preços de bens e serviços em uma economia. Entre os exemplos estão despesas com habitação, educação, vestuário, alimentação, transporte e cuidados médicos.
A partir da inflação no Brasil, a moeda nacional perde seu poder de compra ao longo do tempo e a população pode ter mais dificuldade de acesso a certos itens. Isso significa que R$ 1.000 hoje podem comprar mais do que a mesma quantia em anos anteriores.
Apesar de ser muito comentada em noticiários econômicos, a inflação ainda é um conceito que desperta dúvidas em muitas pessoas. Não é raro, por exemplo, encontrar aquelas que fazem uma associação dela com momentos econômicos negativos.
Entretanto, a inflação não é, necessariamente, um processo ruim para o país. Quando ela acontece de maneira controlada e existem estratégias para evitar que o poder de compra da população seja consumido, ela pode indicar um aquecimento da economia e que a nação está em desenvolvimento.
Contudo, quando há perda desse controle e as mudanças de preço são mais intensas, pode ocorrer um processo de hiperinflação. O Brasil viveu períodos assim entre os anos 1980 e 1990, até a implementação do Plano Real.
De modo geral, a inflação pode ter consequências econômicas e sociais significativas. Os principais riscos são:
- perda de poder de compra da população;
- aumento do custo de vida;
- redução do investimento;
- diminuição do crescimento econômico;
- aumento do desemprego;
- entre outros.
Quais são os principais tipos de inflação?
Agora que você sabe mais sobre a inflação, é possível avançar para compreender quais são os seus tipos. A seguir, veja quais são eles e as características de cada um, bem como seus impactos na economia!
Inflação de demanda
A inflação de demanda ocorre quando a procura por bens e serviços é maior do que a oferta disponível. Para entender melhor, imagine que a busca por determinada peça de roupa está em alta porque ela virou tendência.
Isso faz com que mais pessoas demonstrem interesse pelo produto para comprá-lo em lojas. No entanto, caso os fabricantes das peças não possam atender à demanda do mercado, é natural que os produtos fiquem mais caros, não é mesmo?
A inflação de demanda também pode acontecer por outros motivos, como crescimento econômico e mais oferta de crédito, por exemplo. Como a quantidade de bens e serviços é limitada, a disputa por eles faz com que os preços subam.
Inflação de custos
A inflação de custos, ou inflação de oferta, ocorre quando há um aumento dos custos de produção, como o preço dos insumos, salários ou impostos. Essas mudanças normalmente são repassadas para o preço final dos bens e serviços.
Por exemplo, se houver um aumento no preço do petróleo, os custos de produção de empresas que dependem da commodity como matéria-prima aumentarão. Se essas empresas aumentarem seus preços para compensar o aumento das despesas, haverá a inflação de custos.
Outros fatores também podem causar esse cenário, como aumento dos impostos, dos preços de importação de matérias-primas e uma quebra de safra. A inflação de custos é diferente da de demanda por não ser causada por um excesso de procura quanto à oferta, mas sim por um encarecimento nas etapas de produção.
Inflação inercial
Outro tipo de inflação é a inercial. Diferentemente da inflação de demanda e de custos, ela não tem uma relação direta com fatores recentes ligados à economia real. Em vez disso, ela se relaciona a ideia de memória inflacionária, na qual a inflação passada tem mais peso sobre a inflação corrente do que as expectativas de inflação.
Para ilustrar, imagine que um determinado país viveu uma fase de inflação elevada por quase uma década. Nesse cenário, ela se torna “parte da economia” de um país e passa a ser incorporada nas expectativas das pessoas e empresas.
Assim, pode haver um aumento nos preços por costume dos comerciantes ou como uma estratégia de proteção contra possíveis crises no futuro. Logo, não há mudança na oferta ou na demanda, apenas uma espécie de reajuste voluntário.
Isso significa que há uma perda no poder de compra sem que haja fatores internos ou externos que justifiquem o cenário. A inflação inercial é preocupante por ser mais complexa de controlar e combater, dificultando a definição de expectativas e metas governamentais, por exemplo.
Inflação estrutural
Por sua vez, a inflação estrutural tem origem em problemas inerentes à economia de um país. Entre os cenários estão falta de investimentos em infraestrutura, baixa produtividade, falta de competição em setores importantes e desigualdades sociais.
Problemas assim afetam a oferta de bens e serviços na economia e podem levar a um aumento de preços — mesmo que a demanda não seja muito alta. Além disso, se a produtividade é baixa, as empresas têm dificuldade em reduzir seus custos de produção e manter os preços baixos, concorda?
Ademais, a falta de ação para resolver os problemas estruturais pode:
- levar a um aumento contínuo dos preços;
- causar redução do poder de compra das pessoas;
- elevar os custos de produção para as empresas.
A inflação estrutural é um problema difícil de ser resolvido por demandar mudanças na economia e na política do país. É necessário investir em infraestrutura, melhorar a educação e treinamento de trabalhadores, promover a concorrência e a inovação nos setores econômicos, entre outras medidas.
Como a inflação é medida no Brasil?
No Brasil, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o indicador oficial da inflação. Ele é calculado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e influencia diversas decisões econômicas do país.
O IPCA é calculado pela variação dos preços de uma cesta de produtos e serviços consumidos pelas famílias brasileiras com renda entre 1 e 40 salários mínimos. Ela inclui desde alimentos e bebidas até serviços de saúde e transportes.
Desse modo, o objetivo do IPCA é refletir a variação de preços que efetivamente interfere no poder de compra dos consumidores. Para calculá-lo, o IBGE realiza o acompanhamento diário em estabelecimentos comerciais e de serviços nas principais metrópoles do Brasil.
A medição das variações acontece a partir de médias ponderadas. Isso significa que há itens na cesta e cidades que exercem influência mais alta na base de cálculo. A variação de preços em São Paulo, por exemplo, exerce um peso maior no cálculo por ter uma quantidade mais elevada de pessoas.
Além do IPCA, há outros índices de preço usados no Brasil, como:
- Índice de Preços ao Consumidor (IPC): medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e com foco em famílias que recebem de 1 a 33 salários mínimos;
- Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA): também da FGV, ele é centrado nos aumentos de preço ao produtor;
- Índice Nacional de Custo de Construção (INCC): indicador da FGV focado na inflação na construção civil;
- Índice Geral de Preços (IGP): composto pelos três índices acima e é obtido a partir de uma média ponderada.
Como a inflação afeta a economia?
A inflação pode afetar a economia de diversas maneiras. Como você já viu, um dos principais pontos é a desvalorização da moeda. Quando os preços sobem, o poder de compra das pessoas diminui, o que pode levar a uma redução no consumo e, consequentemente, na atividade econômica.
A inflação também leva a uma mudança na taxa de juros do país. Como o Banco Central não pode agir diretamente sobre a inflação, a taxa básica de juros se torna o principal instrumento de controle.
No Brasil, esse papel é da taxa Selic. Então quando o IPCA registra períodos sucessivos de alta ou fica acima do teto, o Comitê de Política Monetária (Copom) pode optar por aumentá-la.
Com juros elevados, o crédito fica mais caro, o que pode levar a uma redução no consumo e no investimento. Com menor atividade econômica, é possível que a inflação volte a ficar sob controle. Em contrapartida, períodos de juros baixos costumam aquecer a economia.
A inflação também pode gerar desestabilização do mercado. Com aumento das incertezas e mudanças sucessivas nos processos, pode haver redução na confiança dos consumidores e dos investidores, afetando negativamente a atividade econômica.
Além disso, a inflação sem controle pode gerar perda de competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional. Outro impacto é o aumento das desigualdades sociais, pois ela afeta desproporcionalmente pessoas de classes mais baixas.
Tipos de inflação: quais as principais para investidores?
Além dos aspectos econômicos, os tipos de inflação geram diversos reflexos no mercado de investimentos. Um dos principais cenários que ela pode causar é gerar rentabilidade real negativa — isto é, lucros sem ganho real para os investidores.
Para entender melhor, imagine que ao analisar a sua carteira ao final do ano, você constatou que conseguiu uma valorização de 10% do seu capital. O número pode ser bastante interessante em um primeiro momento, não é mesmo?
No entanto, se dentro do mesmo período o IPCA acumulado tiver sido de 15%, a sua rentabilidade real foi negativa. Ou seja, os seus ganhos não foram suficientes para bater a inflação naquele intervalo e seu dinheiro se desvalorizou.
Ainda, como você viu, a inflação pode causar aumento das incertezas no mercado. Como reflexo, é possível que haja mais oscilações em investimentos e mais riscos em determinadas posições — com destaque para a renda variável.
Como o investidor deve agir em períodos de inflação alta?
Até aqui, você já entendeu que a inflação afeta a economia e o mercado de investimentos. Porém, com uma estratégia clara, você pode minimizar impactos negativos na sua carteira.
Saiba como agir em um período de inflação elevada!
Evite decisões impulsivas
Independentemente do momento econômico do país, você deve sempre tomar decisões racionais. Afinal, deixar ser guiado pelas emoções pode prejudicar seus resultados no mercado.
Portanto, um dos seus desafios em um momento como esse é evitar a incidência dos vieses cognitivos. Eles são atalhos que seu cérebro pode seguir ao tomar uma decisão. Por meio deles, as pessoas costumam fazer escolhas impulsivas e sem considerar prós e contras.
Com a alta da inflação e um mercado mais volátil, é comum que muitos investidores se sintam tentados a se desfazer de suas posições temendo perdas. Contudo, o mais indicado é fazer uma análise do cenário e encontrar o caminho mais racional a seguir, combinado?
Mantenha o foco no longo prazo
Em complemento à racionalidade, outra boa prática em períodos de inflação e volatilidade altas é manter o foco no longo prazo. Isso se refere aos períodos de 5 anos ou mais.
A consideração de horizontes mais amplos é importante porque os impactos das oscilações econômicas são mais intensos no curto prazo. Então ter o foco no futuro o ajuda a se proteger desses movimentos.
Outro ponto interessante é que períodos mais amplos permitem que você aproveite o efeito dos juros compostos. Isto é, os juros dos seus investimentos rendem em cima do montante atualizado (com os juros anteriores), o que gera ganhos exponenciais.
Já ao investir em renda variável, como em ações, as companhias podem crescer e amadurecer após crises. Dependendo das suas escolhas, isso permite que você alcance ganhos mais interessantes no futuro.
Ter investimentos atrelados à inflação
Por último, pode ser vantajoso ter investimentos atrelados à inflação. Na renda fixa, existem diversos títulos com rentabilidade indexada por índices como o IPCA.
Entre os exemplos está o Tesouro IPCA, do Tesouro Direto. Ele rende de acordo com o IPCA do período do investimento mais uma taxa prefixada, possibilitando que os investidores tenham ganhos reais no vencimento.
Além dele, há outros títulos híbridos — combinando uma rentabilidade pré com uma pós-fixada — no mercado. Entretanto, note que é preciso aguardar até o vencimento para ter a garantia de ganhos.
Ademais, como os períodos de alta da inflação costumam ser acompanhados de elevação nos juros, você pode contar com títulos pós-fixados. Há aplicações indexadas pela taxa Selic, por exemplo, que oferecem ganhos mais significativos nos períodos de juros altos.
Como você acompanhou, existem diferentes tipos de inflação e cada um tem fatores e reflexos próprios na economia. Agora será mais fácil analisar cenários econômicos, entender suas causas e proteger seus investimentos.
Quer continuar aprendendo sobre conceitos econômicos importantes? Entenda o que é deflação e veja quais são seus impactos!