Uma fórmula que já deu errado
Com uma dívida pública grande demais para um país emergente, e com uma taxa real de juros maior do que a taxa de crescimento econômico, o Brasil precisa gerar superávits primários suficientemente elevados para reduzir a relação dívida/PIB, de forma a evitar o descontrole da inflação e o prejuízo para o crescimento econômico.
No entanto, mesmo antes de indicar quem será o novo Ministro da Fazenda, a equipe de transição já enviou ao Congresso uma proposta de PEC que eleva os gastos acima do teto (na forma como é atualmente definido) em R$ 145 bilhões, para os próximos 2 anos, e foi aprovado por maioria no Senado.
Se tal proposta for aprovada na câmara integralmente, em 2023 a relação dívida/PIB aumentará em 5 pontos porcentuais, e deverá atingir perto de 90% do PIB em 2026.
A divulgação da proposta gerou, de imediato, um salto no trecho mais longo da curva de juros (DI de 3 a 10 anos), uma depreciação cambial (desvalorização do real), uma sensível queda do Ibov, seguidos de enorme volatilidade no dia a dia do mercado.
Qual melhor opção para alocação em Renda Fixa?
A pergunta de qual instrumento usar (CDI, Pré ou IPCA), ou qual mix de instrumentos usar, deve ser feita constantemente, ainda mais em transição de governo e de política econômica.
Abaixo temos uma tabela que mostra o juro real realizado (equivalente ao ano) nos vários governos. Temos desde um juro real bem alto Lula 1, onde um BC profissional fez o trabalho que tinha de ser feito para domar a inflação, além de um fiscal responsável, até Dilma 1, com um juro real bem baixo, fruto de uma tentativa heterodoxa de estimular a economia com um Banco Central não independente (Tombini) e um fiscal ruim.
Passamos pelo juro real negativo nos anos Bolsonaro, onde tivemos diversos fatores extraordinários causados pela Covid, recessão e depois inflação global.
Bem, a regra de bolso diz que quando você espera que o juro real a ser realizado é menor do que o juro real praticado nas NTNB´s então é melhor você carregar as mesmas, como foi mesmo ótimo negócio ter carregado elas durante os anos Bolsonaro.
E agora, olhando daqui para frente? Vale ficar nas NTNB´s?
Quando olhamos para o juro real futuro (ex-ante), o mercado projeta que para os próximos 12 meses teremos um juro real de quase 9%, logo acima do que a curva de B´s está pagando. Nesse caso a predileção é maior a favor dos indexados ao CDI do que das NTN-Bs.
Isso significa que vale ter juros pré-fixados nominais, então? A resposta é depende, hoje possivelmente ainda não. Temos um Lula 3 que demonstra que não será parecido com Lula 1 e sim mais parecido com Dilma 1, com muitos gastos fiscais e até falando em MMT no texto da PEC do Estouro. Logo será um governo que deveremos ter inflação mais alta.
Segurança de um Banco Central independente
Temos um Banco Central independente e com Roberto Campos no cargo até Set.2024. Até lá os movimentos fiscais expansionistas e inflacionários serão combatidos com mais juros nominais, o que deverá manter o juro real realizado alto e acima do juro real das B´s.
Logo, com Roberto Campos no cargo as B´s perdem atratividade e o pós fixado é a melhor opção no momento. O pré-fixado nesse ambiente também não é a melhor pedida, pois BC pode demorar para reduzir juros ou mesmo nem reduzir.
Bem, e se em setembro de 2024 o governo Lula 3 nomear um BC “amigo”, que vai praticar juros baixos, ao estilo de Tombini? Aí nesse caso o juro real realizado vai despencar com a inflação acelerando, ótimo ambiente para voltar a ter alocação em B´s.
Em resumo, enquanto Roberto Campos estiver na presidencia do BC e o mesmo seguir independente, e o governo for gastão, o melhor é correr das B´s longas e ficar bem curtinho, pós fixado, tirando partido do juros reais polpudos.
O que esperar para a economia em 2023?
O nome de Fernando Haddad em si não é bom para a perspectiva da economia, mas cabe observar qual seria a equipe das secretarias mais relevantes (de Política Econômica, Tesouro, Receita).
Caso a equipe e o Planejamento sejam alocados para pessoas com boas propostas, acreditamos que o nome do Haddad conseguiria ser digerido.
Por ora, com as informações que temos, o ciclo de queda de juros não sumiu do horizonte de observação, mas ele provavelmente será postergado (caso confirmado um ministério menos amigável ao mercado), possivelmente do 2º trimestre para o 3º trimestre.
Mas, isso infelizmente, seria atirar no escuro e estamos optando por ter mais informações antes de traçar algo mais concreto e objetivo de timing, ritmo e orçamento das quedas.