Com a eleição de Lula para presidente do país a partir de 2023, algumas atualizações no cenário macroeconômico deverão acontecer, o que impacta diretamente os investimentos em renda fixa.
O novo mandato de quatro anos do poder executivo no Brasil vem com um ambiente de governança aprimorado, investimentos contratados em infraestrutura já em vigor e um possível vento a favor de taxas de juros mais baixas.
Ela também herda um mercado doméstico com empresas que geralmente possuem baixa alavancagem e desemprego nas mínimas de sete anos.
Porém, temos vários desafios, o fiscal é um deles, sem um robusto arcabouço fiscal, dificilmente conseguiremos realmente entrar nessa agenda de crescimento econômico.
Com isso, cautela é o nome do jogo, pois o vencedor das eleições ainda não abriu sua equipe de ministros e projetos para a economia.
Em caso de um cenário com desarranjo fiscal, titulos pré-fixados ficam com uma relação risco x retorno pior que titulos indexados ao IPCA, e, os indexados ao CDI ganham força, pois a Selic pode se manter mais elevada por mais tempo.
Um breve olhar histórico e projeções
Fiscal e atividade
Os pontos mais importantes para se avaliar o desempenho de um governo na área fiscal, é a evolução da relação divida/PIB, basicamente o endividamento do governo.
Olhando os períodos do governo do PT, no 1° governo de Lula, o nível se manteve estável, porém no final do 2°, já se observa um aumento relevante.
No governo Dilma, o endividamento atingiu patamares altíssimos, o que gera uma grande incerteza com relação ao caminho que o atual presidente vai levar sua politica econômica, e, não deu indicações que será austero no âmbito fiscal, e isso é negativo para o mercado de renda fixa.
Uma outra medida para mensurar o risco do país é o CDS (Credit Default Swap), que nada mais é que uma medida de seguro contra calote da divida de um país.
O CDS brasileiro atingiu sua máxima histórica durante o governo Dilma, em um dos momentos mais desafiadores da economia brasileira.
Fazendo uma projeção, o BNDES passou por uma profunda transformação, passando de empréstimos subsidiados para taxas de juros atreladas ao mercado, o que melhorou o papel dessa entidade para atuar como verdadeira estruturadora e assessora do governo para os ativos governamentais.
A moderação das políticas do banco central foi um delito do passado.
O banco central do Brasil agora é independente. Portanto, nós e muitos analistas esperamos que uma política fiscal frouxa seja enfrentada com um contrapeso monetário rígido.
Olhando para frente, vemos as sementes de reformas e concessões acontecendo no Brasil.
Por exemplo, o marco legal de saneamento e água permitiu a realização de bilhões em leilões, com o objetivo de universalizar água e esgoto para cobrir cerca de metade dos cidadãos sem acesso adequado.
As concessões e autorizações ferroviárias devem melhorar a matriz de transporte brasileira ao dobrar a quantidade de carga transportada por trem.
A abertura do setor de transporte de gás a concessões privadas de gasodutos deve reduzir o custo da energia, juntamente com os projetos de geração de energia eólica e solar já concedidos.
Há expectativas de que, até o final de 2022, o governo tenha concedido um pipeline de investimentos no valor de US$ 200 bilhões para a próxima década.
O boom dos mercados de capitais dos últimos anos também ajudou as empresas a desalavancar, ao mesmo tempo em que aumentou a penetração do mercado financeiro para pessoas físicas.
Inflação
Outra variável relevante para ser avaliada na tomada de decisão de alocação em renda fixa é a inflação corrente, e os núcleos, que é o componente do IPCA que tenta expurgar efeitos não recorrentes, como elevação de preços de combustíveis, por exemplo.
O Brasil, historicamente tem uma forte inercia inflacionária, por ter uma economia altamente indexada, mas em alguns momentos, essa inflação foi muito mais alta que o ideal, e em outros, surpreendeu positivamente.
Dada a hiperinflação dos anos 1980-1990, os bancos centrais latino-americanos foram rápidos em agir quando necessário na pandemia, e o Brasil foi um grande exemplo. Em meio à recente onda de aumento da inflação, a região liderou o mundo no aperto monetário.
Comparando os governos, algumas medidas monetárias heterodoxas fizeram com que a inflação ficasse muito acima da meta do Banco Central.
Atualmente, com o BC independente, esse risco tende a zero, dando mais conforto com relação ao controle do nivel de preços.
Investindo em renda fixa: Aumentar indexados ao CDI e ao IPCA curto e reduzir pré-fixados longos (em cenário de descontrole fiscal)
O desempenho dos ativos brasileiros pós eleições surpreendeu positivamente, conforme reportado, o vice presidente Geraldo Alckimin deve ser quem liderará a transição governamental, e o mercado interpretou como positivo.
Outra questão é que muito do prêmio de risco desse resultado eleitoral já estava nos preços, então acabou aparentemente sendo um non event.
No entanto, de posse do cenário descrito no conteúdo acima, não se pode descartar o risco de elevação na curva de juros caso o cenário de descontrole macroeconômico, que estaria alinhado com os receios do mercado, levaria a um potencial aumento considerável das taxas de juros.
Assim, com a Selic elevada por mais tempo, em conjunto com níveis de inflação acima da meta do Banco Central, as alocações em renda fixa deveriam se concentrar em titulos indexados ao CDI, para aproveitar o alto ganho nominal com baixo risco, e titulos indexados a inflação de vencimentos curtos e intermediarios, capturando ganhos através de ganhos de carrego do IPCA.
Os pré-fixados se tornam menos atrativos, pois dificilmente em um cenário de descontrole inflacionário aconteceria um fechamento relevante na curva de juros que compensasse o risco, diferentemente dos indexados ao IPCA, que protegem da perda inflacionaria (caso não haja um descontrole completo e a curva de juros não fique elevada e crescente por muito tempo).
Desta forma, não sugerimos mudanças radicais e abruptas nos portfólios neste momento. Para conferir o que indicamos atualmente, confira nossa carteira recomendada de renda fixa.